Neymar tinha razão sobre bola na mão; regra mudará para combater polêmicas

“Isso é uma vergonha! Colocam quatro caras que não entendem de futebol pra ficar olhando lance em câmera lenta. Isso não existe! Como o cara vai colocar a mão [na bola] de costas? Ah, vá pra pqp.”

Essa frase foi postada por Neymar em rede social, na semana passada, depois da eliminação do clube que defende, o Paris Saint-Germain, da Liga dos Campeões da Europa.

A revolta do atacante brasileiro, sem entrar em discussão sobre o palavreado pouquíssimo elegante, deve-se à marcação de um pênalti para o Manchester United perto do fim da partida em Paris.

O lateral Dalot chutou e a bola desviou no braço do zagueiro Kimpembe, que saltou em movimento que o deixou de costas para a jogada.

(Ao chutar, o atleta do Man United estava a aproximadamente 4 metros de distância do adversário; informação relevante, perceberá o leitor, mais à frente.)

Primeiramente, o juiz esloveno Damir Skomina marcou escanteio. Foi, entretanto, alertado pela equipe do VAR (árbitro assistente de vídeo), os tais “quatro caras” citados por Neymar, que a bola havia desviado no braço do jogador do PSG.

Skomina, ao rever o lance à beira do campo, voltou atrás em sua marcação e assinalou o pênalti.

Rashford bateu, o Man United fez 3 a 1 e eliminou o PSG nas oitavas de final do mais importante interclubes europeu, sonho de consumo do clube francês.

Na opinião de Neymar, que não atuou por estar em recuperação de lesão no pé, o VAR errou (e influenciou o juiz de campo a errar), pois Kimpembe não teve a intenção de tocar com a mão ou o braço na bola.

Eu concordo. Faltando dois ou três minutos para o fim do jogo, com o time se classificando, ninguém é suficientemente insano para propositalmente fazer um pênalti.

Kimpembe-2.jpgVeja os gols de PSG 1 x 3 Man United e o polêmico lance em que a arbitragem marcou pênalti (Reprodução/Site da Uefa)

Fiquei ruminando o lance e fiz contato com a Uefa, organizadora da Champions League, e com a Ifab, responsável pelas regras do futebol, para tentar entendê-lo.

Afinal, o árbitro acertou ou não ao dar a penalidade máxima?, eu queria saber.

Antes de questionar Uefa e Ifab, fui conferir o que diz a regra sobre bola na mão/mão na bola.

“Tocar a bola com as mãos implica o ato deliberado de um jogador tocar a bola com as mãos ou com os braços. Devem ser considerados os seguintes critérios:

o movimento da mão em direção à bola (e não a bola em direção à mão); a distância entre o jogador e a bola (bola inesperada); a posição da mão não pressupõe necessariamente uma infração.”

Interpretando o que está escrito, com ênfase na palavra “deliberado”, dou razão a Neymar e a todos que consideram que não foi pênalti.

Em email assinado por Boudien Broekhuis, gerente de Comunicações, a Ifab escapuliu. Declarou que “não pode e não vai comentar nenhuma decisão individual tomada pelos árbitros”.

O departamento de Mídia da Uefa, contudo, deu uma resposta que continha uma explicação: “Depois da revisão, o árbitro [Skomina] confirmou que a distância percorrida pela bola [entre o chute de Dalot e o desvio em Kimpembe] não foi pequena nem a bola foi inesperada. O braço do zagueiro não estava próximo ao corpo, o que tornou o corpo do zagueiro maior, impedindo a bola de ir na direção do gol. O juiz, então, marcou o pênalti”.

O escrito correspondia à realidade. Por saltar com os braços não colados ao corpo, Kimpembe ampliou a área que ocupava e correu o risco de que a bola tocasse neles (ou em suas mãos), o que acabou ocorrendo.

O problema? Não está na regra que o atleta que se arrisque a tocar com o braço ou a mão na bola, por descuido ou imprudência, deva ser punido (e, consequentemente, sua equipe) com a marcação de uma falta.

Um segundo problema? Não é a primeira vez que isso aconteceu. Há algum tempo vejo situações em que a arbitragem marca infração nesse tipo de ocorrência, mesmo sem estar na regra.

Um terceiro problema? Muitas e muitas vezes os árbitros, seja o de campo ou o VAR, que pode interferir em certas ocasiões (e a dúvida sobre ser ou não pênalti é uma delas) nada marcam –  acertadamente, segundo a regra.

Ou seja, não há um padrão, e a mesma jogada, exatamente a mesma, pode resultar em uma infração ou em nada (“segue o jogo”). Conclusão? Polêmica após polêmica, na certa.

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Felizmente, para meu alívio e certamente de todo o mundo envolvido no futebol, a Ifab decidiu se mexer e incluir na regra detalhamentos sobre a “mão na bola/bola na mão”.

O órgão soltou nesta quarta (13) um documento que, além de reforçar que botar a mão de bola de propósito é falta, traz estes dizeres sobre o tema:

“As seguintes situações de ‘mão na bola/bola na mão’, mesmo que acidentais, incorrem em falta:

a bola entra no gol depois de bater na mão/braço de um atacante (justificativa: o futebol não aceita que um gol seja marcado após o toque com a mão ou o braço, mesmo que acidental); um jogador passa a ter controle da bola depois de ela tocar em seu braço/mão e faz um gol ou cria uma chance de gol (justificativa: o futebol espera que um jogador seja punido por bola na mão se tiver grande vantagem, por exemplo, fazer um gol ou propiciar uma chance de gol); a bola bate na mão/braço do jogador, tornando seu corpo não naturalmente maior; a bola toca na mão/braço do jogador quando ela/ele está acima dos ombros, a menos que o jogador tenha deliberadamente chutado a bola e esta, então, bata em sua mão/braço (justificativa: estar com mão/braço acima dos ombros é raramente uma posição ‘natural’ e o jogador ‘assume um risco’ ao fazer isso, inclusive quando dá um carrinho).

Não se deve marcar uma falta, a não ser que seja uma das situações acima mencionadas, caso:

a bola toque na mão/braço de um jogador vindo diretamente da cabeça/corpo/pé desse jogador ou da cabeça/corpo/pé de outro jogador que esteja perto dele (justificativa: nesses casos é geralmente impossível evitar o contato com a bola); a bola toque na mão/braço de um jogador estando mão/braço perto do corpo do jogador, de modo a não tornar o corpo não naturalmente maior; o jogador esteja caindo e haja o contato da bola com mão/braço, desde que o jogador use mão/braço como apoio durante a queda, mas não de modo a tornar seu corpo maior.”

Deliberações tardias, que já poderiam/deveriam ter sido tomadas há muito tempo, pois, caso sejam seguidas à risca pela arbitragem (e devidamente entendidas por jogadores, treinadores, dirigentes, torcedores), dirimem dúvidas a respeito de marcar ou não falta em lances de mão na bola/bola na mão.

Elas, todavia, entrarão em vigor só a partir de 1º de junho. Até lá, reclamações como a de Neymar, prevejo, ainda hão de vir aos montes.

Em tempo 1: No futebol e na vida, muito se muda no decorrer dos anos. Nas décadas de 1980 e 1990, a arbitragem, diferentemente do que se vê hoje, costumava cumprir a regra estritamente. Marcação de falta quando a bola batesse na mão, só se fosse mão na bola escandalosa, com o jogador dando um tapa, um soco ou uma cortada na redonda.

Em tempo 2: A Ifab, além da questão da “bola na mão/mão na bola”, decidiu alterar outras regras do futebol. O que haverá de mais relevante? A introdução de cartões amarelos e vermelhos para o treinador (em casos de reclamações/xingamentos à beira do gramado); o jogador, ao ser substituído, ter de deixar o campo pela linha (de fundo ou lateral) mais próxima a ele; em tiro de meta, a bola estará em jogo assim que for tocada, não sendo mais necessário esperar que ela saia da área.

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