'Natasha' traz de volta o melhor de Bruna Guerin e Zé Henrique de Paula

Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812
★★★★
033 Rooftop, JK Iguatemi. Av. Juscelino Kubitschek, 2.041. Sex., às 21h30; sáb., às 16h e 21h30; dom., às 19h30. Até 25/11. R$ 130 a R$ 160. Menu completo: R$ 133

Nesta adaptação para musical de uma passagem de “Guerra e Paz”, a agora estrela Bruna Guerin tem algumas das melhores cenas de sua carreira, de maior arrebatamento, no papel de Natasha, heroína que se deixa levar pela paixão e é punida por ela.

Passa com facilidade da descrição narrativa, uma das características deste musical, para a emoção plena. Vai do distanciamento para a fusão com a personagem, com um estágio potencializando o outro.

Amadurecida, com controle sobre a própria interpretação tanto vocal quanto emocional, a atriz conduz os diálogos mais conflitantes com segurança, entre a jovialidade inicial e o posterior desespero, que a aproxima do suicídio.

O coprotagonista André Frateschi, que faz Pierre, não chega a tanto, talvez por ser menos experiente na atuação, propriamente. Apesar de filho de atores, dedica-se mais à música. Seu personagem passa boa parte da peça monocordicamente mal-humorado, sem que precisasse se prender assim.

Mas no final, quando o papel ganha um propósito mais claro, o intérprete se concentra e, cantando sempre bem, faz um dueto final emocionante com Bruna.

E acrescenta na sequência a redenção do cometa que toma os céus de Moscou e trará horrores, mas que naquele instante prenuncia a paz, o fim da dor e do desalento. Como um instante de silêncio, antes da tempestade.

Não se trata, que fique claro, do romance avassalador de Tolstói, talvez o mais grandioso já escrito, mas de um pequeno recorte dele. É tão leve, se comparado ao original, que pode soar ofensivo, daí o aviso ao leitor.

Zé Henrique de Paula, diretor de maior produção no teatro paulistano recente, está aqui novamente com a sua própria companhia, aquela que levou ao palco o exitoso “Urinal”, outro musical de risco buscado no cenário alternativo de Nova York.

Desta vez, põe em cena a sua diretora musical, Fernanda Maia, tocando e regendo no centro do palco. Transforma a execução musical ela própria em espetáculo.

Do que se conhece, é a encenação mais inventiva da companhia, com um palco que serpenteia no meio do público, com direito a comida russa, se o espectador pedir —como que ensinando o que seria possível conseguir de integração ao teatro em salas assim, como tantas que existem em São Paulo, mas quase sempre com logística desastrosa.

Um terceiro protagonista, Gabriel Leone, que faz Anatol, se sai melhor do que o seu personagem —vaidoso, oportunista, desrespeitoso— indica. A paixão que arranca de Natasha, em duetos emocionantes, quase mágicos, é também dele. A repulsa que provoca é vencida por um sorriso e uma dor que vão além do papel.

Mas a melhor cena, uma celebração da Rússia, é a protagonizada pelo cocheiro de Anatol, Balaga (Vitor Moresco). Comandado por ele, a passos violentos, o elenco inteiro transmite um vigor que parece arriscar fisicamente tanto os atores como os espectadores.

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