Na academia, novo ministro do MEC soma baixa produção e desavenças
Novo ministro da Educação do governo Jair Bolsonaro, Abraham Weintraub coleciona desavenças com alunos e colegas em seus cinco anos como professor pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e tem no currículo acadêmico apenas quatro artigos em periódicos científicos —todos em revistas de baixo prestígio.
Segundo seu currículo na plataforma Lattes, dois desses quatro textos foram publicados na Revista Brasileira de Previdência, que tem o irmão de Weintraub como editor-adjunto, e dois na Revista Chilena de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social.
Os dois periódicos acadêmicos foram enquadrados na categoria B4 para a área de administração e ciências contábeis na mais recente avaliação da Capes (Coordenadoria de Administração de Pessoal), órgão de pós-graduação ligado ao MEC. O indicador é o sexto mais baixo da escala, que começa no A1.
Segundo a Capes, a classificação é feita com a finalidade de “refletir a importância relativa dos diferentes periódicos para uma determinada área”.
Dois dos artigos do novo ministro são sobre os sistemas de pensões e aposentadorias, e dois sobre inflação.
Um dos textos publicados na revista chilena tem o mesmo título de um na revista brasileira, mas em inglês (A Bela Adormecida: 20 anos depois, o processo inflacionário está em vias de ressurgir. Qual a dinâmica e as consequências desse movimento para a Previdência no Brasil).
Graduado em ciências econômicas pela USP em 1994, Weintraub fez mestrado na Fundação Getúlio Vargas. Ao anunciar seu nome, Bolsonaro afirmou em rede social que ele era doutor, título que ele não tem, mas depois o presidente corrigiu a informação.
Antes de se dedicar integralmente à vida acadêmica, com o ingresso na Unifesp em 2014, e, depois, ao governo, Weintraub atuou por mais de 20 anos no mercado financeiro. Foi sócio na Quest Investimentos, diretor do Banco Votorantim e CEO da Votorantim Corretora.
Ele não atualiza seu currículo Lattes desde março de 2017. A plataforma é mantida pelo CNPq (conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para agregar trabalhos e títulos de acadêmicos.
A falta de atualização diferencia o novo ministro de outros ocupantes do cargo com trajetória acadêmica. Seu antecessor Ricardo Vélez Rodríguez, por exemplo, atualizou o Lattes há 15 dias.
Já o currículo de Weintraub cita, além dos quatro artigos em periódicos acadêmicos, entrevistas e artigos em jornais e revistas, além de participação em conferências.
Em “outras informações relevantes”, o novo chefe do MEC diz: “uma de minhas maiores satisfações pessoais foi a boa receptividade dos alunos quanto ao método e a abordagem de ensino que adoto”.
Procurado na tarde desta segunda (8), Weintraub não comentou seu currículo até a publicação desta reportagem.
Apesar de citar no Lattes a relação com alunos, ele também tem em seu histórico divergências com alguns deles.
Em 2018, Abraham e seu irmão Arthur, que também é professor na Unifesp e trabalha no governo Bolsonaro, receberam críticas de parte dos alunos pelo apoio técnico à campanha do então candidato do PSL.
No Facebook, as críticas viraram ofensas que foram respondidas pelos dois docentes. As publicações diziam que os irmãos eram mau-caráter e que deveriam apanhar para deixarem de ser babacas. O irmão do novo ministro então decidiu processar pelo menos dois alunos.
Em um dos processos, Arthur pediu R$ 5.000 por danos morais. Mas a Justiça entendeu que, apesar das palavras rudes, os professores passaram apenas por um dissabor. O caso foi arquivado, e Arthur teve de arcar com os custos processuais.
Em um caso anterior, de 2017, o novo ministro processou um aluno após uma discussão em um grupo de emails sobre mudanças no sistema administrativo do campus.
Segundo a decisão, após mensagens em tom jocoso, o estudante pediu que os emails de sua classe fossem excluídos da discussão e afirmou: “acredito que muitas outras [pessoas] não têm nenhum interesse em briguinhas de casal”.
Weintraub recorreu à Justiça afirmando que dizer “briguinhas de casal” tinha “conotação preconceituosa ao atribuir pejorativamente a ele condição de ser homossexual”.
Pediu indenização por danos morais, negada pela juíza Debora Romano Menezes, que entendeu a expressão como referência a uma discussão sem importância.
Fora da carreira acadêmica, em 2012 o novo ministro se envolveu em processo de apuração interna da BM&F-Bovespa, quando era diretor da Votorantim Corretora, ramo de investimentos em ações do Grupo Votorantim. A investigação tratou de de transações financeiras de clientes da corretora que teriam se beneficiado de preços e condições artificiais de mercado.
A corretora foi acusada de faltar com atenção no cumprimento de regras de mercado e não perceber as irregularidades. Como diretor, Abraham foi citado no procedimento, mas fez um acordo para pagar R$ 45 mil e ser retirado do processo, que foi arquivado.
Em 2017, ele processou o banco Credit Suisse por supostamente mencionar em treinamentos de profissionais do mercado financeiro uma decisão da CVM que o envolve dando “a entender que ele teria cometido crimes graves”.
Weintraub afirma tais irregularidades nunca foram praticadas de forma intencional e que decorreram de imperícia de sua equipe. A Justiça negou seu pedido de liminar.