Mundo conta as horas para início da guerra comercial EUA-China

As repetidas ameaças do presidente Donald Trump de que ele iniciaria uma guerra comercial com a China parecem destinadas a se concretizar.

O governo americano está se preparando para impor tarifas sobre US$ 34 bilhões (R$ 133,2 bilhões) em produtos chineses na manhã desta sexta-feira (6).

As penalidades, que estão previstas para entrar em vigor a partir de 0h01, devem gerar retaliação tarifária imediata da parte de Pequim, que anunciou que tributará montante equivalente de exportações americanas.

A disputa deve ter efeito sobre as cadeias mundiais de suprimentos, elevar os custos para empresas e consumidores e causar perturbações nos mercados mundiais de ações, que vêm registrando volatilidade.

O governo Trump está conduzindo disputas comerciais em múltiplas frentes, ao impor tarifas sobre aço, alumínio, painéis solares e lavadoras de roupas importados de Canadá, México, União Europeia e Japão.

Mas as tarifas sobre a China, o maior polo industrial do planeta, afetarão proporção maior de produtos e porcentagem maior das empresas que dependem de cadeias mundiais de suprimento.

Pela manhã da sexta-feira, empresas como a Husco International, fabricante de autopeças com sede em Wisconsin que fornece componentes para Ford, General Motors, Caterpillar e John Deere enfrentará aumento de preços de 25% sobre diversas peças importadas da China.

Austin Ramirez, presidente-executivo da Husco International, disse que o aumento coloca sua empresa e outros fabricantes americanos em desvantagem diante de concorrentes internacionais.

"As pessoas mais ajudadas por isso são meus concorrentes na Alemanha e no Japão, que também têm boa parte de suas cadeias de suprimento na Ásia, mas não estão sujeitos a essas tarifas", disse Ramirez.

Se a China reagir impondo tarifas, como esperado, se unirá a outros países que já retaliaram, levando o total de exportações americanas afetadas a aproximadamente US$ 75 bilhões (R$ 294 bilhões).

Isso representa uma fração ainda pequena do US$ 1,55 trilhão (R$ 6 trilhões) em bens exportados pelos Estados Unidos em 2017, mas em alguns setores a dor será intensa.

Uma pesquisa de Mary Lovely, professora de economia na Universidade de Syracuse e pesquisadora sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, calcula que empresas multinacionais não chinesas que operam na China arcarão com o peso das tarifas, e não empresas realmente chinesas.

As empresas não chinesas, por exemplo, exportam 87% dos computadores e produtos eletrônicos embarcados da China para os Estados Unidos, enquanto empresas chinesas respondem por apenas 13%.

"Creio que veremos um efeito sobre a visão de longo prazo dos Estados Unidos como destino de exportação", disse Lovely.

"Essas tarifas não estão atingindo o alvo, e tornam muito mais difícil para as empresas americanas fazer negócios dentro dos Estados Unidos, quanto mais nos mercados de exportações."

Embora as tarifas afetem uma proporção relativamente baixa do comércio internacional, Lovely disse que a incerteza criada para as empresas pela abordagem adotada por Trump pode ter efeitos negativos sobre o governo, ao erodir a capacidade de empresas americanas para exportar à China e outras nações.

A postura agressiva do governo Trump com relação à China tem por objetivo pressionar a alterar o que a Casa Branca descreve como um padrão de práticas desleais de comércio e de roubo de propriedade intelectual americana.

Não se sabe como a guerra comercial pode terminar, ou se terminará. Ao passo que as medidas comerciais se intensificam em Washington e Pequim, fica mais difícil para os líderes dos dois países recuar da beira do abismo.

Eswar Prasad, professor de comércio internacional na Universidade Cornell, disse que os danos econômicos da guerra comercial se tornaram uma questão secundária para Trump e o presidente chinês Xi Jinping.

"A dinâmica política interna em cada país pode dificultar a contenção ou a busca de uma saída para a escalada das hostilidades comerciais", disse o professor.

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