Modinha de comer pipoca com pinça mostra que o Brasil já foi pro saco

Este país já foi para o saco, a gente que ainda não percebeu.

Mais uma amostra de que o apocalipse zumbi está em curso é a modinha, nascida no Rio de Janeiro, de usar uma pinça para comer pipoca.

Saiu na imprensa carioca: os pipoqueiros da cidade agora oferecem uma pinça descartável, de plástico, para que os clientes não sujem as mãos aos degustar tão refinada iguaria.

A notícia me lembrou imediatamente do episódio “The Pledge Drive” (1994), da série cômica “Seinfeld”: nele, George Costanza aparece comendo um chocolate com garfo e faca. As pessoas de início acham esquisito, mas logo toda Nova York adere à tendência gastronômica lançada pelo baixinho careca.

Surreal, como surreal também é a história da pinça. E eu nem vou entrar na questão ambiental, numa época em que os canudinhos são alvo de patrulha acirrada.

A justificativa para o pegador de plástico é o alto risco de lambança oferecido pela pipoca carioca: umas das versões mais populares leva leite condensado. Só isso já deveria ser proibido em cláusula pétrea da Constituição.

O fato é que brasileiro adora comida lambuzada, mas tem nojinho de melecar os dedos.

Aqui, usam-se talheres para atacar pratos feitos para segurar com as mãos: hambúrguer, empanadas, tacos e até esfihas.

Some a isso o talento nacional para criar monstros impossíveis de manipular. O sanduíche desmorona e escorre do pão, de tantos ingredientes atulhados nele. Idem para o pastel.

Por falar em pastel: numa visita recente ao Rio, uma amiga mandou o garçom trazer garfo e faca para comê-lo. Eu achei graça e tirei sarro.

Depois fui a Vitória e pedi um pastel no bar. Parecia uma boa ideia: queijo com carne de panela. Eu desconfiei do preço alto do quitute, mas não perguntei das dimensões dele. Quando chegou, tinha uns 20 centímetros de comprimento e era pesado como um tijolo.

Tentei me aproximar do colosso com a abordagem clássica: mãos e dentes. A primeira mordida liberou vapor cáustico, queijo em temperatura de fusão e caldo ebuliente. Recuei. Deitei o pastel sobre o prato. Lavei as mãos.

Tirei os talheres do embrulho feito de guardanapos. Rendição incondicional.

E vou dizer que estava uma delícia.

 

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