Ministra do Tesouro renuncia e amplia crise no governo canadense
A ministra do Tesouro do Canadá, Jane Philpott, renunciou nesta segunda-feira (4), e disse que já não confiava no governo do premiê Justin Trudeau, mergulhado em grande crise política.
"Estive considerando os eventos que sacudiram o governo nas últimas semanas e, após uma reflexão séria, cheguei à conclusão de que devo renunciar como membro do gabinete", publicou a ministra em uma rede social.
"Os princípios solenes em jogo são a independência e a integridade de nosso sistema de justiça. Infelizmente, perdi a confiança em como o governo tratou este assunto, e em como respondeu aos problemas que se apresentaram", assinalou.
O pedido de renúncia tira uma poderosa figura feminina do governo a poucos meses de uma eleição cujas pesquisas mostram que Trudeau pode perder.
Em um evento do Partido Liberal em Toronto, Trudeau disse que estava desapontado, mas que entendia as razões que levaram Philpott a renunciar.
"Preocupações desta natureza precisam ser levadas a sério, e eu posso assegurar que estou", afirmou o premiê, que não apontou os motivos específicos para o pedido de demissão da agora ex-ministra do Tesouro.
Ele também a agradeceu pelos serviços prestados a seu governo, algo que não fez quando a ex-ministra da Justiça e procuradora-geral Jody Wilson-Raybould renunciou.
Segundo a imprensa, Jane é próxima de Wilson-Raybould, responsável por desencader a crise no governo liberal de Trudeau ao acusar funcionários do alto escalão de tentarem evitar o julgamento por fraude da gigante da engenharia SNC-Lavalin.
O anúncio surpreendente de Jane acrescenta um novo capítulo à situação complexa vivida por Trudeau.
Na semana passada, a oposição pediu a renúncia do primeiro-ministro e o lançamento de uma investigação federal sobre as denúncias de Jody durante seu depoimento, em fevereiro, na Comissão de Justiça da Câmara dos Comuns.
Segundo Jody, Trudeau, um de seus ministros e conselheiros próximos ao premiê a pressionaram de forma "inapropriada", que incluiu "ameaças veladas", para que interviesse em um processo penal, e que a perseguiram para que o caso fosse resolvido fora dos tribunais.
A ex-ministra se negou, e o julgamento está próximo de começar.
A SNC-Lavalin foi acusada em 2015 de corrupção por suspeita de ter subornado funcionários na Líbia entre 2001 e 2011 para garantir contratos governamentais durante o reinado de Muamar Kadafi, morto em 2011.