Mardi Gras, o Carnaval americano, tem paradas, fantasias e excessos

Sem muita margem de erro, dá para dizer que os americanos deixam a formalidade e a inibição quase completamente de lado em duas ocasiões no ano: na chamada Spring Break, em março ou abril, quando há um intervalo no extenso calendário das universidades; e no Mardi Gras, o Carnaval local.

O Mardi Gras é uma tradição que tem um contexto religioso por trás: ocorre sempre no dia anterior à Quarta-Feira de Cinzas, quando tem início a Quaresma cristã. Ao pé da letra, Mardi Gras, termo francês, significa Terça-Feira Gorda, em referência à autoindulgência a que, principalmente, os católicos se permitiam antes de começar os 40 dias de orações e jejum.

 

Em um país majoritariamente protestante (46,5% dos adultos), não é em todo lugar que o Mardi Gras faz sucesso. A festa mais famosa é a realizada em Nova Orleans, fundada por franceses –a Louisiana, estado onde a cidade fica, foi comprada pelos EUA da França em 1803. O primeiro registro do Mardi Gras na região data de 1703, 15 anos antes da fundação oficial de Nova Orleans.

Hoje, como no Carnaval do Rio ou de São Paulo, a celebração acaba sendo mais lembrada pelos excessos dos foliões do que pelas paradas e fantasias em si. “As pessoas acham que é uma festa só para adultos, porque há meninas e meninos enlouquecendo, mas não é esse o sentido da festa”, diz Bobbi Mannino, diretora de relações públicas do site Mardi Gras New Orleans.

Ela faz referência à tradição de colecionar colares de miçangas. Quanto mais, melhor. Algumas meninas mostram os seios para receber o cordão, outras trocam por um beijo, principalmente na rua Bourbon, no bairro French Quarter.

“Essas exibições são geralmente protagonizadas por turistas desinibidos. Para os moradores locais, o sentido é muito mais ficar com a família, juntos, no mesmo ponto da esquina todo ano esperando a parada [o desfile dos grupos]. É cozinhar, reunir amigos, escolher uma fantasia para a família.”

A festa acaba sendo uma mistura de Sapucaí e bloquinhos de rua. Como se fosse uma escola de samba de um grupo abaixo do Acesso, com carros alegóricos, alguma luz neon, predominância das cores roxo, verde e dourado e fantasias –umas mais elaboradas que outras.

O Krewe, organização responsável pelas paradas, não recebe dinheiro público para os desfiles, coisa que acontece com as escolas de samba no Rio e em São Paulo. A prefeitura entra com o apoio policial e a limpeza após a passagem de cada grupo.

O tamanho dos grupos varia: os menores podem ter 300 membros, os maiores, 2.500 --número de componentes facilmente encontrado em uma escola do grupo especial do Rio. As paradas começam três semanas antes do Mardi Gras, diz Mannino. Neste ano, ela estima que mais de 80 krewes devem desfilar pelas ruas de Nova Orleans. Os dias mais importantes do calendário vão de sábado até a Terça-Feira Gorda, o dia mais aguardado.

Cada um dos krewes define seus temas e escolhe seu rei e rainha, que podem ser membros de uma mesma família que vão passando a tradição à frente ou celebridades. A Krewe of Bacchus é famosa por seus reis: a coroa já pertenceu ao comediante Will Ferrell e a atores como Hugh Laurie, Andy Garcia e Nicolas Cage, só para citar alguns.

Os integrantes do krewe têm que se vestir conforme o tema escolhido e os carros alegóricos também seguem a narrativa definida. Já o público pode usar o que quiser. “Eu, minha mãe, meu pai e meus quatro filhos nos vestimos iguais”, diz Mannino, a quinta geração da família em Nova Orleans.

Não há uma estimativa oficial do público presente, porque a parada ocorre em uma rua e se espalha por até 5 quilômetros.

“Mas normalmente se mede pela quantidade de lixo que é recolhida. Sabem se um ano teve mais gente o outro pelo lixo coletado. Acho que 1,5 milhão de pessoas é uma boa estimativa”, afirma a diretora de relações públicas do site. “É um bom negócio para os comerciantes locais, é uma temporada em que hotéis, restaurantes e outros estabelecimentos lucram.”


 

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