Maioria diz que mídias digitais informam, mas também facilitam manipulação

A maioria da população de países emergentes afirma que o acesso à tecnologia informa, mas também facilita a manipulação dos usuários com a divulgação de boatos e informações falsas.

Pesquisa divulgada pelo Pew Research Center nesta segunda-feira (13) mostra que, em média, 78% dos entrevistados acreditam que o acesso à internet, celular e mídias sociais faz com que os usuários fiquem melhor informados, ao mesmo tempo que 72% avaliam que isso também os deixam mais vulneráveis à manipulação por boatos ou conteúdos falsos que circulam na rede.

O levantamento foi feito em 11 países emergentes, entre eles Venezuela, Colômbia e México —o Brasil não foi  incluído—, e reflete o quão complexa e contraditória é a relação entre as pessoas e as mídias digitais.

Nos últimos anos, essas plataformas foram fundamentais para a proliferação de campanhas como o #MeToo —movimento de mulheres que denunciaram abusos sexuais—, mas também chamaram atenção por seu potencial na disseminação de notícias falsas, facilitando a manipulação política e o aumento da violência e de crimes de ódio.

Segundo a pesquisa, em média 75% das pessoas dizem que as mídias digitais introduzem novas ideias no seu cotidiano, mas 68% afirmam ver regularmente conteúdo falso nelas.

Além disso, 35% dizem confiar nas notícias sobre política que acessam nessas plataformas, porém, somente 10% afirmam que esse grau de confiabilidade é "muito alto".

Uma das principais conclusões do levantamento é que as pessoas temem os riscos das redes e reconhecem seu potencial manipulador, mesmo que admitam que seu acesso oferece novas ideias e mais chance de engajamento político para a população comum —55% dos usuários se dizem dispostos a entrar no debate político, apesar de a maioria (65%) se sentir mais confortável em fazer isso pessoalmente. 

 A divisão, porém, não é simétrica entre os que têm visão positiva sobre o impacto da tecnologia no cenário político, por exemplo, e os que avaliam a ação negativamente. Em muitos casos, aqueles mais envolvidos com os benefícios das mídias digitais são também os mais ansiosos e preocupados com os seus possíveis danos.

Na maioria dos países, a visão de que a tecnologia fez as pessoas aceitarem melhor o outro é correlacionada à ideia de que ela também dividiu mais os grupos em relação a suas opiniões políticas.

As pessoas acham que a conectividade dá acesso à informação, facilitando o envolvimento com a vida pública e aumentando a capacidade da população comum ter voz no processo político.

 

Mas esses benefícios são acompanhados, frequentemente, de preocupações sobre as limitações das mídias digitais como um instrumento de ação política ou busca de informações: 57% dizem que as mídias sociais dão voz no processo político a pessoas comuns, enquanto 65% vêem riscos de que elas sejam manipuladas por atores políticos de seus próprios países.

Outro dado relevante é que nesses países emergentes a maioria das pessoas diz que as mídias digitais são mais informativas e focadas em questões importantes para elas em comparação com outras fontes.

Os números mostram que 47% avaliam que essas plataformas são mais informativas, 31% afirmam que as consideram a mesma coisa que outras fontes e, para 21%, elas são menos informativas.

De acordo com a pesquisa, 31% das pessoas acham que o conteúdo das mídias digitais é mais confiável que o de outras fontes, mas 30% avaliam que ele é mais tendencioso e 31%, mais odioso.

Na Venezuela, por exemplo, 87% dizem que o acesso à tecnologia garante mais informação, mas 63% também acham que essas plataformas contribuem para a manipulação dos usuários.

Ainda no país latino-americano, 56% afirmam que as mídias digitais dão mais voz à população comum no processo político, enquanto 58% dizem que elas aumentam o risco de manipulação das pessoas pelos políticos locais.

Em profunda crise política e econômica, a Venezuela tem sofrido censura por parte do regime de Nicolás Maduro. Na semana passada, por exemplo, com a retomada dos protestos liderados pelo oposicionista Juan Guaidó, o ditador reforçou a perseguição a jornalistas e sites independentes.

Por ora, entretanto, eles têm conseguido atuar e se manter como as fontes mais confiáveis de informação naquele país.

Entre as mídias pesquisadas pelo Pew Research Center estão Facebook, WhatsApp, Twitter, Snapchat, Instagram, Viber e Tinder, sendo os dois primeiros os mais utilizados. Em média, 62% dos 11 países usam o Facebook e 47%, WhatsApp, mas vários dos entrevistados dizem ter acesso a mais de um dos aplicativos.

 

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