Madeiras e gradações sonoras engrandecem Osesp com Stutzmann

Artista em residência da temporada 2013 e artista associada durante o triênio 2016-18, a contralto e regente francesa Nathalie Stutzmann tem sido uma das mais ativas parceiras da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

A ampla repercussão de sua atuação certamente a faz figurar como candidata à sucessão da regente titular Marin Alsop, cujo mandato terminará no final de 2019: seria uma segunda direção feminina consecutiva, fato totalmente inédito em uma orquestra desse porte.

Não é necessário, entretanto, que Stutzmann venha a assumir qualquer posto fixo para continuar a qualificar a programação de concertos paulista em repertórios como os que dirige ao longo das próximas duas semanas.

O primeiro ambienta-se na segunda e na terceira décadas do século 19. Tem a “Sétima Sinfonia” de Beethoven (1770-1827) como eixo, em diálogo com a “Abertura” da ópera “Guilherme Tell”, de Rossini (1792-1868), e a “Fantasia para Viola e Orquestra” de Johann Hummel (1778-1837).

Beethoven escreveu, estreou e regeu várias vezes a “Sétima” em período próximo ao do Congresso de Viena, cúpula internacional que organizou o retorno ao poder das velhas casas monárquicas europeias após a derrota de Napoleão. 

Muitos bons regentes se perdem nessa obra, já que não é fácil lidar por longos períodos com as suas muitas repetições, a insistente pulsação marcada e os blocos sonoros intensos. O segredo de Stutzmann é enfatizar as diferentes vozes internas e controlar gradações de sonoridade, intensidade e andamento.

Para isso, ela contou, na quinta (1º/11), com inspiradas atuações de todos os solistas de madeiras da orquestra.

Na obra, flauta, oboé, clarinete e fagote —ao que se soma o corne inglês em Rossini— não são só destaques individuais, mas um grupo coeso, com cores precisas nas combinações de duetos e trios.

Se no “Vivace” do primeiro movimento trompetes e percussão ainda soavam um pouco invasivos dentro da textura, o equilíbrio foi total no movimento final, justamente o mais difícil de balancear.

Momentos mais introspectivos, como a longa “Introdução” do primeiro movimento e o famoso “Allegretto”, também permitiram à regente acumular uma necessária densidade emocional a fim de enfrentar a longa travessia.

Já a obra para viola de Hummel —interpretada com afinação precisa, com expressividade nas frases agudas e com graves penetrantes pelo solista Antoine Tamestit— é um potpourri básico sobre árias famosas de óperas de Mozart, similar a tantos outros que se faziam no século 19.

Baseada na lenda do herói obrigado por poderosos a atirar em uma maçã colocada na cabeça do próprio filho, “Guilherme Tell” foi a última ópera escrita por Rossini. Sua “Abertura” ecoa traços de Beethoven, como a cena da tempestade da “Sinfonia Pastoral”.

Na próxima semana, Stutzmann apresentará programa imperdível com a “Sinfonia Concertante para Violino e Viola” de Mozart (1756-1791) e a “Primeira Sinfonia” de Brahms (1833-1897).

Mas ainda mais imperdível é a obra programada para ela reger no ano que vem: “A Paixão Segundo São Mateus”, de Bach (1685-1750). Vale a pena separar na agenda, desde já, os dias 11, 13 e 15 de abril de 2019.

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