Lixão ou meio ambiente são destinos de 1/3 do lixo da AL

A ONU Meio Ambiente apresentou no último dia 9, em Buenos Aires, durante fórum de ministros da área, um levantamento sobre a situação regional dos resíduos da América Latina e do Caribe. Os números são alarmantes e o futuro não sorri.

Para começar, das 541 mil toneladas geradas por dia, 145 mil toneladas vão para lixões. Essa quantidade que vai para lixões equivale ao que é gerado por 27% da população da região: 170 milhões de habitantes. Além disso, 40 milhões de pessoas não têm acesso sequer à coleta.

Com objetivo de facilitar a divulgação dos dados e o engajamento das administrações locais, o relatório elegeu 12 mensagens sobre a situação regional, que resumo a seguir:

1º A geração de resíduos está crescendo e deve chegar a 671 mil toneladas por dia em 2050, um aumento de 25% sobre o total de hoje. É a primeira vez que se faz esse tipo de projeção regional. Entre as razões do crescimento, a maior urbanização da população e uma relativa melhora na renda, combinadas com um modelo de consumo insustentável e com a produção de bens ainda de acordo com a economia linear, ou seja, sem planejamento de descarte e reúso e sem formas de reabsorver esses materiais na indústria.

2º É necessário universalizar serviço de coleta para a população. 35 toneladas por dia sequer são coletadas, impactando mais de 40 milhões de pessoas, 7% da população de todo o continente.

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3º Lixões têm de ser eliminados. 145 mil toneladas por dia são jogadas nestes locais ou o equivalente ao que é gerado por 27% da população local, que são 170 milhões de pessoas. Isso acarreta poluição do solo, formação de gases de efeito estufa, o que afeta a saúde, a produção industrial e a indústria do turismo.

4º Lixo orgânico é o que mais se produz e o que menos se maneja. 50% de todo o lixo municipal é orgânico. A falta de separação e tratamento específico também entra na conta da geração de gases do efeito estufa, reduz a qualidade dos recicláveis —a contaminação impede a reciclagem— ​ e dificulta o processo. Qualquer estratégia sobre o lixo orgânico deveria levar em conta a diminuição do desperdício de comida. A separação deveria ser promovida e a proibição de colocar lixo biodegradável em aterros deveria ser melhor estudada, enquanto se providenciem formas de aproveitamento local como compostagem.

5º É necessário acelerar a transição em direção à economia circular. As taxas de reciclagem da América Latina são baixíssimas, entre 1% e 20%. É necessário planejar e desenhar produtos que possam ser reusados, ou que se tornem matéria-prima para novos processos industriais ou então fonte alternativa de energia para seguir na direção de aposentar os combustíveis fósseis.

6º Lixos especiais não estão sendo administrados de forma correta. Aí incluem-se os altamente tóxicos como o lixo hospitalar, os restos de construção e demolição e os elétricos e eletrônicos. É necessário reforçar os mecanismos legais para estabelecer programas específicos para esses materiais e encorajar a o seu tratamento adequado.

7º Modelos de governança são necessários para um sistema integrado de manejo de resíduos. A região é conhecida por seus problemas de sobreposição de legislações que tornam suas regulamentações ambientais difíceis de aplicar.

8º É preciso aprimorar a formalização e o reconhecimento do trabalho de reciclagem. Apesar de ser reconhecido em alguns países e legislações, o trabalho dos catadores precisa ser profissionalizado, para aumentar a produtividade, proteger as crianças e a saúde dos trabalhadores do setor.

9º ​É preciso encorajar a efetiva comunicação e a participação dos indivíduos em todos os níveis da sociedade. O sucesso do manejo de resíduos requer engajamento de vários níveis de lideranças, de educação e comunicação para impulsionar mudanças de comportamento.

10º É essencial promover investimento da economia sustentável. Basta fazer as contas para ver como o investimento em sistemas mais racionais e de alguma prevenção diminui os gastos com a saúde e mitigação de danos ambientais.

11º ​ São necessários dados, informações e sistematizações regulares de dados sobre o gerenciamento de resíduos para poder entender e melhorar a gestão.

12º ​A correta administração dos resíduos é uma das mudanças mais importantes da região na direção da sustentabilidade. Para isso, é necessário que os governos da América Latina e do Caribe deem prioridade política. A decisão política implica criar e implantar políticas e estratégias públicas sólidas, apoio institucional, tecnologias disponíveis financiadas com inclusão e participação social, indicadores de gestão e planos de educação e difusão que contribuam para sua integração e sustentabilidade.

Assistindo ao Fórum, o diretor da associação de empresas de limpeza, Abrelpe, Carlos Silva Filho, considerou como destaques a projeção —inédita— ​ do crescimento de 25% na geração para 2050; a taxa de destinação inadequada de 1/3, e o baixo reaproveitamento de materiais, com 90% dos resíduos sendo desperdiçados na região.

Outro ponto muito relevante, diz, é a orientação para o fim dos lixões. “Para controlar a poluição marinha, que afeta todos os países do mundo, é preciso acabar com a disposição inadequada de resíduos. Essa indicação da ONU é muito importante”.

“É a primeira vez que se faz um relatório tão abrangente, com dados de 33 países. E entre as conclusões mais preocupantes está o fato de que a economia circular é ainda um conceito abstrato por aqui”, diz.

Para que o relatório tenha algum impacto, deve chegar às administrações municipais:  “A responsabilidade dos governos locais é enorme e, sem o engajamento deles, a situação não vai mudar”, diz.

E o que os países podem fazer em conjunto? “Do ponto de vista operacional, quase nada. Mas podem atuar juntos para estabelecer que a responsabilidade dos produtores, que são as empresas, seja harmônica. Como ela afeta a indústria e como muitas empresas estão em todos os países, pode haver uma pressão maior para o compromisso de todos de forma similar na logística reversa de cada região”, afirma.

RELIX

Diante de um quadro tão complexo, vale lembrar iniciativas boas no trabalho de educação ambiental, treinamento e capacitação dos catadores de materiais recicláveis no Brasil.

O projeto Relix, que promove ações e educação para sustentabilidade, com peças de teatro e exposições, já atingiu três estados do Nordeste. Nos dias 13 e 14, festeja mais uma etapa do projeto na Paraíba, com entrega e passeio de ciclolix, as bicicletas adaptadas para catação que o projeto fornece aos catadores, a apresentação da peça Espetaculix e uma exposição fotográfica com mulheres catadoras de Alagoas e Pernambuco nas lentes dos fotógrafos Helder Ferrer e Beto Figueroa.

O Espetaculix é apresentado em escolas públicas, para crianças e adolescente dos ensinos fundamental e médio, e também indústrias, e distribui cartilhas ilustradas e lixeiras de reciclagem. Clique aqui para acessar o material didático.

A exposição de foto Relixx - A Força Cromossômica Feminina Por Uma Vida Sustentável está sendo montada sob um viaduto, perto do Theatro Santa Roza, e poderá ser vista até o fim de outubro.

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