Livro refuta alarmismo ao analisar engajamento da China na ordem global

Há quem, nos estudos das relações internacionais, pinte a ordem global que ainda está por vir neste século 21 como uma paisagem instável povoada de instituições nacionais e internacionais enfraquecidas.

Não é o caso de Oliver Stuenkel, que em “O Mundo Pós-Ocidental”, publicado neste mês pela Zahar, apresenta uma visão, se não otimista, ao menos mais ponderada e menos alarmista do futuro próximo, marcado pela ascensão de novos players globais de fora do Ocidente tradicional —notadamente China e Índia, com Brasil, Rússia e África do Sul correndo por fora.

Não por acaso, esses cinco países integram os Brics —grupo que completou uma década neste ano e já foi objeto de Stuenkel em seu livro “Brics e o Futuro da Ordem Global” (Paz & Terra, 2017).

Mas o foco aqui é menos o Brics —ainda que ele seja lembrado— e mais a arquitetura global na qual esse arranjo, junto de outros, estará inserido nas próximas décadas.

O pano de fundo é o fim da hegemonia de Estados Unidos e Europa Ocidental na esfera econômica e militar, o que se conhece por hard power, restando a eles o soft power (poder de barganha) em instituições internacionais criadas no século passado e pouco afeitas a reformas efetivas, como ONU, FMI e Banco Mundial.

O autor compila mais de 20 iniciativas institucionais —a maioria lideradas pela China— que oferecem um sistema paralelo ao já estabelecido.

As principais: o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura —contraparte do Banco Asiático de Desenvolvimento, liderado pelo Japão com a bênção de Washington—, o Novo Banco de Desenvolvimento —equivalente ao Banco Mundial— e o Arranjo Contingente de Reservas, que faria o papel do FMI.

“Com o poder mais equilibradamente distribuído, o mundo estará diante de uma oportunidade de fortalecer a cooperação e engajar muito mais vozes do que em qualquer outro momento na história humana, a despeito do fato de que administrar tal sistema venha a ser uma tarefa muito mais complexa”, avalia Stuenkel no livro, originalmente publicado em 2016 no Reino Unido e agora editado no Brasil pela Zahar.

É salutar ainda a lembrança pelo autor do ocidentocentrismo que permeia a maioria das análises internacionais.

Esquece-se, por exemplo, da origem do princípio da autodeterminação dos povos, “fundamento da ordem liberal global de hoje” e que nasceu “de movimentos anticoloniais que agiram em oposição aos interesses ocidentais”, em referência à descolonização da África em meados do século 20.

Como diz Stuenkel, “a história não é tão puramente ocidental como nós gostamos de lembrar”.

Essa visão ocidentocêntrica leva pesquisadores a subestimar não só o papel que atores não ocidentais desempenharam no passado, mas também “o papel construtivo que provavelmente terão no futuro”.

Ao organizar e analisar de forma objetiva as recentes movimentações das potências emergentes no âmbito global, o livro lança sobre o porvir uma luz de tons bem menos sombrios.

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