Livro mostra que propinas fizeram Hawilla ascender no futebol

​J. Hawilla se tornou um gigante do marketing esportivo. Sua empresa, a Traffic, se transformou numa das maiores do mundo nesse ramo, graças principalmente a um esquema de propinas que beneficiava os mais poderosos cartolas das Américas.

Em 2011, porém, autoridades dos EUA decidiram desvendar a teia de corrupção na elite do futebol mundial. Dois anos depois, Hawilla foi um dos primeiros a serem detidos.

A queda do gigante levou à derrocada de dezenas de cartolas, a começar pelo então presidente da CBF, José Maria Marin, preso nos EUA.

É essa a saga apresentada pelo livro-reportagem “O Delator”, dos jornalistas Allan de Abreu e Carlos Petrocilo. 

A introdução é um dos pontos altos da obra. Narra os momentos em que Hawilla formalizou a delação diante de um juiz de Nova York, em 2013. O empresário, então com 71 anos, já enfrentava graves problemas de saúde —morreu em maio de 2018.

Debilitado, ele faria qualquer coisa para escapar da cadeia, o que não seria fácil porque o FBI havia reunido provas contundentes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, entre outros crimes. A saída, então, foi delatar os seus comparsas.

Evidentemente, a ação dos EUA não pôs fim à bandidagem no futebol, mas causou um estrondo. Jamais a cartolagem havia sido devassada de modo tão rigoroso, e os depoimentos do homem-bomba Hawilla foram decisivos para promover essa primeira grande faxina.

Os autores também se saem bem ao expor a trajetória de Hawilla antes da Traffic.

Como repórter de rádio, ele foi um dos grandes responsáveis por atiçar a ira de boa parte da torcida do Corinthians contra Rivellino depois da perda do título paulista para o Palmeiras, em 1974.

O meia acabou trocando o time pelo Fluminense.

No fim da década de 1970, o repórter deixa a cena para a ascensão do empresário.

“O Delator” mostra também como a aliança corrupta entre a Fifa, então liderada por João Havelange, e a empresa de marketing ISL serviu como modelo para a parceria entre a CBF, com Ricardo Teixeira no comando, e a Traffic.

Juntos, Teixeira e Hawilla fizeram proezas. Uma delas foi receber quase US$ 30 milhões (cerca de R$ 115 milhões) da Nike por meio de um banco suíço e de uma offshore no paraíso fiscal das Bahamas.

O livro, aliás, tem passagens muito voltadas a Teixeira em detrimento de Hawilla, o que pode levar à dispersão do leitor. As artimanhas do ex-chefe da CBF merecem obra à parte.

“O Delator” também falha pela falta de concisão. Os autores se alongam em questões jurídicas que nem sempre são indispensáveis para a história.

Esses problemas reduzem a fluência do livro, mas não comprometem o valor e a pertinência das informações, algumas exclusivas. Ao fuçar o submundo do futebol, prática ainda rara entre os repórteres brasileiros, “O Delator” representa vitória do jornalismo.

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