Livro de Rubens Barbosa revela percalços da integração regional

Em ao menos dois momentos-chave da história recente brasileira, o embaixador Rubens Barbosa ocupou posição privilegiada. Primeiro durante a formação do Mercosul, em 1991, quando chefiava no Itamaraty o recém-criado Departamento de Integração.

Mais tarde, com a troca de governo em Brasília em 2003. À época Barbosa era embaixador em Washington e acompanhou a aproximação estratégica do governo George W. Bush com o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Os 42 anos de serviço diplomático de Barbosa, que também foi embaixador em Londres, são lembrados —pelo próprio— em mais de 20 horas de depoimentos concedidos ao professor da FGV e colunista da Folha Matias Spektor, reunidos no livro “Um Diplomata a Serviço do Estado”, publicado pela FGV Editora.

Os testemunhos, gravados de janeiro de 2009 a dezembro de 2011, revelam, mais do que a boa memória de Barbosa, o dia a dia do “métier” diplomático, sujeito aos dissabores de rixas, reveses externos e crises políticas alheias à estabilidade do Itamaraty.

Diferentemente da cartilha do regime militar (1964-1985), que desconfiava dos vizinhos e mantinha relações distantes com a Argentina, Barbosa era um defensor da integração regional. É no governo Sarney (1985-1990) que, segundo o diplomata, ocorre o “‘turning point’ da nossa relação, de alheia e distante com a América Latina, sobretudo com a América do Sul”.

Nesse processo de integração, o diplomata não esquece as resistências frequentemente impostas pela equipe econômica, não importasse o governo.

“A área econômica aceitava por ser política do governo, porque lá estava o Itamaraty, era diretriz do presidente, mas a resistência continua até hoje, com a Receita Federal que toma medidas contra o processo de integração.”

À frente da coordenação do Mercosul nos primeiros anos, Barbosa é crítico do rumo tomado por governos petistas nesse campo, especialmente da chamada “paciência estratégica” com manobras da Argentina para fechar acordos por fora do tratado.

A boa interlocução estabelecida com os americanos desde 1999 na embaixada também permitiu a Barbosa atuação relevante na aproximação que o governo Bush ensaiou com Lula, percebido “como uma esquerda democrática e um fator de moderação na região”.

“O Brasil era o canal que eles tinham aceitado dar tratamento preferencial na região”, lembra Barbosa.

O embaixador concorda que “por motivos diferentes, FHC e Lula contribuíram para a projeção externa do Brasil”.

Mas não poupa críticas aos governos petistas.

“Se a pretensão era ter um papel maior no concerto internacional, influir nas decisões, o governo petista não poderia ter recebido no país o presidente do Irã, quando esse líder não era recebido em lugar algum, por nenhum dirigente global. [...] Acontece o mesmo com relação ao interesse pelo Hamas. Qual foi o objetivo disso? Então a política externa brasileira nesse momento adotou uma série de atitudes meio gratuitas, sem embasamento sólido algum.”

Um Diplomata a Serviço  do Estado – Na Defesa do Interesse Nacional
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Autor: Rubens Barbosa

Editora: FGV 

R$ 49,90 (300 págs.)

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