Investigado por corrupção, dirigente de Tóquio-2020 deixará cargo

 O presidente do Comitê Olímpico do Japão, Tsunekazu Takeda, anunciou na terça-feira que deixaria o posto no final de seu mandato, dentro de alguns meses. A decisão foi tomada enquanto ele enfrenta uma investigação por corrupção, na França, sobre a escolha de Tóquio como sede da olimpíada de 2020.

O dirigente se declarou inocente. Mas as acusações geraram escândalo quanto aos jogos, causaram abalo ainda maior na credibilidade do processo de seleção de sedes olímpicas, e macularam um evento que o governo japonês esperava promover como mostra da recuperação do país.

Em entrevista coletiva, em Tóquio, Takeda anunciou que planejava renunciar no final de junho, ao final de seu 10º mandato como presidente do Comitê Olímpico do Japão, para abrir caminho a uma nova geração de dirigentes esportivos. Ele também renunciará ao seu posto no Comitê Olímpico Internacional (COI).

"É muito doloroso para mim pensar que causei tamanho furor na sociedade", ele disse, mas acrescentou que "nada fiz de errado e, no futuro, vou me esforçar para provar minha inocência".

Em dezembro, investigadores franceses indiciaram Takeda — antigo atleta olímpico no hipismo e também presidente da comissão de marketing do COI— após uma investigação criminal sobre o processo seletivo da sede olímpica, que Tóquio venceu em uma reunião do COI realizada em 2013 em Buenos Aires.

Takeda disse ter sido questionado pelas autoridades francesas, mas negou suas acusações. Ele não teve novos contatos com os investigadores, disse Takeda a jornalistas na terça-feira. 

Procuradores públicos franceses suspeitam que o processo que resultou na vitória de Tóquio tenha sido irregular. Eles dizem que dirigentes dos comitês organizadores das cidades candidatas pagaram propinas a membros africanos do COI para obter apoio.

Pagamentos identificados em um processo contra Papa Massata Diack, ex-executivo de marketing da Associação Internacional de Federações de Atletismo, despertaram suspeitas dos procuradores franceses quanto ao processo seletivo.

As autoridades francesas já haviam solicitado anteriormente a extradição de Diack ao seu país, o Senegal, sob acusações de que ele havia ajudado a manipular a seleção do Rio de Janeiro como sede da olimpíada de 2016. Diack diz que o racismo e o ciúme são a causa das acusações contra ele.

Em 2016, procuradores públicos franceses afirmaram que membros do comitê organizador da candidatura de Tóquio haviam feito pagamentos de mais de US$ 2 milhões à Black Tidings, uma empresa de Cingapura dirigida por um amigo muito próximo de Diack. As autoridades japonesas mais tarde interrogaram Takeda sobre seu papel nos pagamentos, e concluíram que eles se referiam a trabalhos de consultoria. O Comitê Olímpico Japonês sustenta que os pagamentos eram legítimos.

Tóquio-2020 será a segunda olimpíada de verão que a cidade organiza e a quarta olimpíada organizada no Japão, que também sediou jogos de inverno em Sapporo e Nagano.

Da mesma forma que a Olimpíada de 1964 tinha por objetivo mostrar ao mundo que o Japão havia ressurgido como potência econômica, depois de sua quase destruição na Segunda Guerra Mundial, a Olimpíada de 2020 supostamente seria uma oportunidade de demonstrar a recuperação do país depois de décadas de estagnação econômica e do terremoto e desastre nuclear de 2011. Tóquio derrotou Madri e Istambul, para sediar os jogos.

Desde que a capital foi escolhida como sede olímpica, o Japão registrou uma alta no turismo e um período de crescimento econômico irregular mas em geral positivo,.Os proponentes do evento dizem que a olimpíada merece algum crédito por isso. Ela também foi vista como grande vitória política para o primeiro-ministro  japonês Shinzo Abe, que foi à cerimônia de encerramento da Olimpíada do Rio, em 2016, vestido de Super Mario, o encanador de boné vermelho e macacão azul que estrela diversos videogames da Nintendo.

O caminho até os jogos não tem sido tranquilo. Estouros de orçamento despertaram questões sobre os benefícios econômicos do evento. E embora as autoridades tenham tentado vincular os jogos à reconstrução da prefeitura [província] de Fukushima, onde o terremoto de 2011 causou desastre em uma usina nuclear, essa conexão só serviu para expor o lento e difícil trabalho de limpeza que continua a ser realizado lá. 

Tradução de Paulo Migliacci

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