Inteligência Artificial deve ser sempre um auxiliar de diagnóstico e nunca substituir o médico na decisão

Entre as capacidades técnicas e a responsabilização e ética médica, o recurso a sistemas de inteligência artificial já é uma realidade em algumas organizações e está a crescer à medida que a tecnologia está disponível e mais acessível. Mas há muitos desafios, como se percebeu hoje durante um painel do Portugal eHealth Summit dedicado a “Smart Decisions”. A conferência internacional está a decorrer em Lisboa até 23 de março e a utilização da tecnologia para melhorar os serviços de saúde é um dos destaques.

A necessidade de ter dados fiáveis foi uma das questões sublinhadas por Sofia Couto da Rocha, média e fundadora da startup SkinSoul, que lembrou que há muita informação narrativa, não organizada na perspetiva de uma base de dados e que se for aplicada a uma máquina de inteligência artificial não tem o output esperado. E há ainda a falta de dados específicos, e que sirvam de base suficientemente abrangente para os fins a que se destinam, nomeadamente nas imagens do cancro cutâneo.

Mesmo assim a visão é que a inteligência artificial não substitui a inteligência humana, e serve de um meio complementar de apoio à decisão do médico. “Vejo a AI como um instrumento, como se fosse um estetoscópio […] ajuda a ter uma decisão mais fundamentada, com mais segurança e mais informação”, refere.

A experiência do Hospital de Cascais, reconhecido como um dos mais avançados nesta área, foi também destacada por Vasco Antunes Pereira, CEO da Lusíadas Saúde, que lembrou que já existem áreas onde há muitos dados, bem trabalhados, mas que há outros onde existe uma grande carência. “Os algoritmos podem ir buscar informação a 3 ou 4 fontes distintas e chamar a atenção do médico, com informação correlacionada”, explica, adiantando que os médicos fazem turnos e têm muita pressão e que nem sempre há tempo e calma para tomar a melhor decisão. “Nisto estamos a permitir tomar melhores decisões, mas a decisão clínica é sempre do médico”, afirma.

A questão da responsabilidade e do erro foi também abordada por Eva Martins, Global Head of Innovation and Digital Commercial Transformation da Novartis AG, que acredita que não há que ter medo do erro da tecnologia, porque o erro humano também existe e não há forma de o medir.

Para Sofia Rocha, estamos ainda numa zona cinzenta, e o problema da responsabilização da decisão é global. “o caminho de utilização mais aprofundada da inteligência artificial é longo e se todos estiverem envolvidos na implementação – médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde – é mais fácil perceber como não estamos a competir com uma máquina mas a melhorar o serviço aos clientes”, afirma.

O CEO da Lusíadas Saúde defende que em Portugal há muitas iniciativas “absolutamente diferenciadoras a nível mundial” e que estamos muito bem posicionados na transformação digital da saúde, que é uma mudança de paradigma que vai muito mais além do que a digitalização do papel.

Mesmo assim sublinha que as organizações vão ter que repensar a sua estrutura orgânica, e que não pode ser a mesma que tinham há 10 anos atrás, já que vão ter de ser moldadas à introdução dos sistemas de AI e a algoritmos.

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