Fux matou no peito e fez gol contra

O ministro Luiz Fux, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tinha diante de si um pedido para declarar a inelegibilidade de Lula. A petição era processualmente imprópria e ele rejeitou-a. Fez o mesmo que a ministra Rosa Weber há algumas semanas.

A notícia foi divulgada pelo UOL. Fux deu-se conta de que rejeitando o pedido apenas por impróprio, poderia dar a impressão de que admitiria, em tese, a elegibilidade de Lula.

Deve-se ao repórter Reynaldo Turollo Jr. a narrativa do que aconteceu em seguida, nas palavras de Fux:

"Depois que saiu essa notícia, eu fui verificar se a decisão tinha sido publicada [no Diário da Justiça]. Então, peguei a decisão, para não deixar dúvida, e fiz questão de colocar nela (...) aquilo que tenho defendido publicamente, que é a inelegibilidade de candidatos que já incidiram em uma condenação em segunda instância".

Fux deixará o TSE no próximo dia 14 e decidiu acrescentar um parágrafo ao despacho informando que vislumbrava a "inelegibilidade chapada" de Lula. Se o pedido tinha um vício processual, a questão estava resolvida, não havia por que acrescentar "aquilo que tenho defendido publicamente", muito menos usando o termo "chapada".

Lula sabe que será declarado inelegível, mas isso só poderá acontecer quando ele estiver na condição legal de candidato. Ademais, "chapado" não quer dizer nada.

Lula é candidato a vítima para eleger o "Poste". Quanto mais o vitimizarem, maior será a sua capacidade de transferir simpatias e preferências. A barafunda provocada pelo drible do desembargador Rogério Favreto, abrindo uma temporada de bate-cabeças no Judiciário, premiou-o com as trapalhadas dos que não querem vê-lo como candidato ou mesmo em liberdade.

O complemento de Fux ao despacho foi um mimo para Lula. Primeiro, porque não é adequado que o presidente de um tribunal tenha "defendido publicamente" uma posição relacionada a um julgamento que ainda não aconteceu. Mesmo que o seja, foi despicienda a iniciativa de repeti-la num despacho que tratava de um pedido processualmente viciado.

Até a balbúrdia prende-solta dos desembargadores e do juiz Moro, podia-se achar que Lula era um apenado fingindo que era candidato. Depois dela, tornou-se uma vítima. Fux, como Moro, matou no peito e chutou contra o próprio gol.

 

Temer deve cuidar de seu crepúsculo

O presidente Michel Temer mostrou que caminha para um lastimável fim de governo. Numa canetada, retirou o nome de Davidson Tolentino de Almeida para uma diretoria da Agência Nacional de Saúde.

Pudera, ele estava radioativo desde que foi acusado por um ex-assessor do senador Ciro Nogueira (do PP) de ter feito coisas que não devia. Noutra, indicou Paulo Rebello Filho para o mesmo lugar. Rebello é chefe de gabinete do ministro da Saúde, Gilberto Occhi (do PP).

Um presidente que entrou no Planalto demitindo um garçom arrisca sair deixando um testamento de nomeações de protegidos pela coligação partidária que o amparou.

Temer tem todo o direito de preencher os cargos que a lei lhe faculta, mas é no mínimo falta de educação nomear um diretor para a notória ANS, com mandato de três anos, quando faltam menos de cinco meses para o fim de seu governo. Está quitando contas com o cartão de crédito de seu sucessor.

Muita gente não gostou da maneira como Temer chegou à Presidência, mas ele sempre poderá dizer que cumpriu-se a Constituição. No crepúsculo de seu governo, o doutor é dono do ritual da sua saída, e a pior maneira de ir para casa é o legado testamentário.

Há mais mimos na cumbuca. Desde maio está vaga a cadeira do Brasil na Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. O titular renunciou em maio, abatido por uma denúncia da ex-mulher que dizia sofrer humilhações e espancamentos. O felizardo ganha um mandato de sete anos. Já há candidatos.

 

Recordar é viver

Na sua entrevista ao Roda Viva, o deputado Jair Bolsonaro disse o seguinte: "Fui acusado por uma jornalista de ter um plano de botar bombas na Vila Militar. O Superior Tribunal Militar arquivou o processo."

Não foi bem assim. Em 1986, numa entrevista a uma repórter da revista Veja, Bolsonaro e outro oficial falaram em explodir uma bomba na adutora do Guandu, que abastece o Rio de Janeiro. Seriam apenas palavras, mas durante o encontro Bolsonaro fez um desenho primitivo, mostrando um trecho da adutora, o local da bomba, o percurso da fiação e a localização do detonador, com um reloginho.

Bolsonaro defendeu-se apresentando dois exames grafotécnicos inconclusivos. Dois outros, um deles da Polícia Federal, concluíram que a caligrafia era dele. O Conselho de Justificação informou que ele "mentiu durante todo o processo" e considerou-o culpado.

O processo foi ao Superior Tribunal Militar. Em 1988, o empate ocorrido nas perícias deu-lhe o benefício da dúvida, e ele foi absolvido por 8 votos contra 4. O capitão Bolsonaro deixou a tropa e foi para a reserva.

 

Pezão, um sofredor

O governador Luiz Fernando Pezão disse: "Acho muito cruel a vida do político", queixou-se do "excesso de poder dos órgãos fiscalizadores" e revelou: "Sofro junto" com a desdita de Sérgio Cabral, já condenado a mais de cem anos de prisão.

No dia em que suas lamúrias estavam na rua, uma senhora morreu por falta de atendimento num hospital público do Rio. A médica de plantão disse a um familiar desesperado que estava ocupada, lendo um artigo científico.

Em 2007, nos primeiros dias de seu governo, o magnífico Cabral disse que a situação dos hospitais do Rio podia ser comparada a um "genocídio" e que acionaria o Ministério Público para cuidar do descalabro. Estava acompanhado pelo secretário de Saúde, Sérgio Côrtes.

Ambos acabaram em cana, mas Pezão sofre pelo padrinho e reclama da crueldade dos "órgãos fiscalizadores".

Ouçam Gleisi

Quando a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que o nome de Ciro Gomes "não passa no PT, nem com reza brava", muita gente —inclusive o signatário— achou que era apenas uma frase de efeito.
Ela falava e fala por Lula.

Favreto frito

A procuradora-geral Raquel Dodge pegou pesado na sua representação criminal contra o juiz Rogério Favreto, que mandou soltar Lula num domingo, provocando o bate-cabeças do Judiciário.

O papa é craque

Quando cardeal-arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio tinha um monsenhor encarregado de afastar de suas proximidades figuras com as quais não gostaria de aparecer em fotos.

Quando lhe foi pedido que mandasse uma mensagem espiritual a Lula, seguiu uma fórmula que junta caridade e cautela:
"A Luiz Inácio Lula da Silva com a minha bênção, pedindo-lhe para orar por mim, Francisco."

Nela, roga ao destinatário que reze por ele, mas não promete reza sua.

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