Finalíssima da Copa terá um adversário político da Rússia em campo

O presidente Vladimir Putin não pôde contar com a presença da seleção de seu país na final da Copa, como seria previsível apesar da excelente campanha do time.

Mas talvez não esperasse também que, em troca, teria de assistir um adversário político em campo na final no domingo (15) contra a França.

Inglaterra e Croácia disputam a semifinal nesta quarta (11) em Moscou, no Estádio Lujniki.

Se os ingleses vencerem, o constrangimento político de Putin será maior.

A Inglaterra disputa torneios de futebol de forma separada de Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, e é o país dominante do Reino Unido.

O governo britânico lidera uma campanha internacional contra Putin desde março, quando um ex-espião russo e sua filha foram envenenados numa cidadezinha inglesa.

O governo de Theresa May acusou o Kremlin promoveu a expulsão de diplomatas russos, com resposta igual de Moscou. Diversos países ocidentais seguiram Londres, gerando o maior expurgo diplomático mútuo da história: 342 afetados.

O Kremlin nega envolvimento no crime. O envenenamento de Serguei Skripal e sua filha Iulia, que sobreviveram, segue misterioso, pois não havia motivo óbvio para acontecer.

Uma mulher morreu nesta semana supostamente por ter manuseado algo contaminado com o mesmo veneno na região do ataque.

A Rússia suspeita que tudo é uma armação para prejudicar a imagem de Putin em ano de Copa e, ao mesmo tempo, buscar desviar atenção da crise que engole seu impopular governo de May.

Se a Croácia for à final, o clima não será muito melhor.

Além de ter expulso um diplomata russo na crise, Zagreb é antagonista dos interesses de Moscou nos Bálcãs desde o fim da antiga Iugoslávia.

É a maior rival da Sérvia, que por sua vez é considerada pela Rússia como um país irmão por dividir etnia, religião ortodoxa e o uso do cirílico.

Na Segunda Guerra, fascistas croatas apoiados pela Alemanha nazista promoveram massacres de até 600 mil sérvios.

Na Iugoslávia do pós-guerra, o domínio de Belgrado era ressentido em Zagreb, e o caldo entornou na guerra pela independência croata em 1991.

Para piorar, um jogador e um auxiliar técnico da Croácia comemoraram a vitória sobre a Rússia de Putin, nas quartas de final, dedicando o feito à Ucrânia.

O país vive grave crise com a Rússia desde 2014. Naquele ano, um golpe derrubou o governo simpático a Putin em Kiev.

O Kremlin, que não admite que a Ucrânia se torne parte da Otan ou da União Europeia porque traria forças adversárias à sua fronteira, retaliou anexando a Crimeia e apoiando separatistas no leste do país.

O funcionário croata foi expulso da Copa. Já o jogador do episódio, Domagoj Vida, se desculpou, mas voltou a ser investigado pela Fifa após a revelação de um segundo vídeo daquela noite.

Nele, ele diz também “Queime, Belgrado”.

Os croatas contemporizaram. “Só posso agradecer a Rússia e espero que nos apoiem. Nossas línguas têm algumas palavras parecidas”, disse o zagueiro Dejan Lovren.

Do outro lado do campo, a situação é menos complicada.

Apesar de fazer parte da União Europeia e de ter retaliado no caso Skripal (quatro expulsões), a França tem relações bem mais amenas com a Rússia –até porque estão envolvidos em projetos econômicos, como a exploração do gás no Ártico.

O presidente francês, Emmanuel Macron, esteve no estádio nesta terça (10). Não se encontrou com Putin, contudo, mas certamente o fará na final de domingo.

Colaborou Fábio Aleixo

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