Finais da WTA prometem manter imprevisibilidade da temporada

Se o tênis feminino fosse um bistrô, "haveria muita coisa no cardápio", disse Tracy Austin.

É difícil discordar.

O tênis masculino retornou a um período de domínio por Novak Djokovic. Mas com uma temporada perto do fim e outra por começar em breve, o tênis feminino continua deliciosamente difícil de categorizar, com uma rica mistura de gerações, candidatas genuínas a títulos, e suspense semana após semana.

"Há histórias para todas", disse Austin, antiga líder do ranking do tênis feminino que hoje trabalha como comentarista.

Isso vale para o circuito em geral, mas não exatamente para as Finais da WTA, a organização que comenda o tênis feminino profissional, que começam no domingo em Cingapura. Entre as tenistas que não conseguiram vaga para a disputa do títulos da temporada estão duas das figuras mais fascinantes de 2018: Serena Williams, 37, e Aryna Sabalenka, 20.

Williams, que vem sendo muito seletiva em sua escolha de torneios porque acaba de se tornar mãe, talvez não participasse de qualquer forma. Mas as quatro mulheres que venceram os torneios do Grand Slam este ano poderiam estar lá: Caroline Wozniacki, Simona Halep, Angelique Kerber e Naomi Osaka.

Halep, que já garantiu virar o ano no topo do ranking, decidiu não participar. Depois de sentir dores nas costas em um torneio na China no mês passado e abandonar sua partida de primeira rodada contra Ons Jabeur em Pequim, o problema dela foi diagnosticado como uma hérnia de disco. É uma questão potencialmente séria, e muitas jogadoras teriam encerrado sua temporada imediatamente ao receber a notícia.

Halep continuou batalhando, porém, fazendo fisioterapia todos os dias e viajando à Rússia, onde ela terminou por abandonar o Torneio de Moscou na segunda-feira (15) e por anunciar que não participaria das Finais da WTA, na quinta (18). Halep disse ter sido informada de que não necessitaria de cirurgia, mas que precisava tomar cuidado. Ela será substituída nas finais por Kiki Bertens, da Holanda.

Este é o quinto e último ano em que as finais da WTA acontecerão em Singapura, antes de seguirem o dinheiro e os espectadores rumo a Shenzhen, China, em 2019 –o contrato da WTA com os organizadores chineses dispõe que as finais acontecerão lá por pelo menos 10 anos. Halep é a única jogadora de simples a ter se qualificado para as finais em todos os anos em que o torneio foi disputado em Singapura.

"Vou guardar esse fato como uma das melhores coisas que já me aconteceram no tênis", ela disse.

Mas a melhor dessas coisas aconteceu para ela em junho, quando conquistou seu primeiro título de simples no Aberto da França, depois de ser derrotada em suas três primeiras finais de Grand Slam. Wozniacki também rompeu com os precedentes em 2018, depois de uma longa espera, derrotando Halep e ficando com seu primeiro grande título, o do Aberto da Austrália, em janeiro. Kerber viria a coroar a retomada de sua carreira, aos 30 anos, com sua vitória sobre Williams em Wimbledon, em julho.

A figura implausível entre as finalistas do ano é Osaka, 20, que se demonstrou totalmente imune a pressões e distrações ao derrotar Williams por 6/2 e 6/4 e vencer o Aberto dos Estados Unidos em setembro.

Foi a grande partida de sua vida, mas será lembrada muito mais pela briga entre Williams e o árbitro de cadeira linha-dura Carlos Ramos, que impôs três penalidades à tenista americana, o que lhe custou primeiro um ponto e depois um game e a levou a perder a calma, em uma quadra na qual ela já havia perdido a calma em outras partidas importantes no passado.

Victoria Azarenka, derrotada duas vezes por Williams em finais apertadas do Aberto dos Estados Unidos, estava entre os milhões de pessoas que assistiram ao jogo de longe, tentando compreender. Como Williams, ela já liderou o ranking e está voltando ao circuito depois de ter um filho. Ao contrário de Williams, Azarenka, 29, agora é parte do conselho de jogadoras da WTA, que dedicou boa parte do ano a tentar revisar as regras da circuito para as tenistas que estejam voltando de uma licença-maternidade. 

Williams pressionou para que as tenistas que retornam ao esporte depois de um parto tenham posições garantidas como cabeças de chave em torneios, e não só proteção aos seus postos no ranking.

"Tantas coisas aconteceram no tênis feminino este ano, e fizemos tanto progresso. Mas bastou aquele momento na final do Aberto dos Estados Unidos para eclipsar tudo", disse Azarenka em entrevista por telefone. "E isso é lastimável, porque preciso afirmar que não é algo que acontece no esporte masculino. Um momento não eclipsa todo o resto do bom trabalho que vem acontecendo, e a final toda foi muito frustrante para mim. Fiquei muita irritada, e ainda estou, um pouco".

Azarenka disse que em sua opinião Ramos deveria ter se esforçado mais para acalmar a situação, advertindo Williams antes de puni-la por receber instruções do treinador Patrick Mouratoglou, que estava sinalizando para a tenista das arquibancadas. Azarenka disse acreditar que Ramos deveria ter deixado claro para Williams que ela estava a ponto de ser penalizada com a perda de um game, antes de puni-la por agressão verbal no segundo set.

Azarenka reconheceu que Ramos tecnicamente não tinha obrigação de fazer qualquer das duas coisas. "O que é 100% verdade, em minha opinião, é que isso poderia ter sido evitado", disse Azarenka.

Como parte de seu trabalho no conselho de jogadoras, Azarenka pretende pressionar por normas mais claras, para eliminar as "áreas cinzentas", especialmente com relação às instruções de treinadores.

A controvérsia continua, e Osaka também tem sentimentos contraditórios. "laro que estou feliz por ter vencido um torneio de Grand Slam. Não acho que nada possa subtrair alguma coisa disso", ela declarou este mês. "Mas não sei. Eu sinto que... não é como se a lembrança da partida me desagradasse, mas sinto que foi algo estranho. Não quero pensar a respeito".

O que está claro é que Osaka tem capacidade de ser muito mais que uma vencedora isolada de grande torneio, com seu jogo de força, mobilidade cada vez maior e mentalidade vencedora nas partidas mais duras. Mas ela terá de se ajustar ao estrelato (como tenista que representa o Japão, a atenção da mídia será intensa), e a ser enfrentada com mais motivação pelas adversárias, em partidas que de outro modo seriam rotineiras.

Não há garantias, e as rivais são muitas. Mas os sinais iniciais são positivos para Osaka: em seus dois primeiros torneios depois do Aberto dos Estados Unidos, ela chegou à final em Tóquio e à semifinal em Pequim.

"Ela seguiu sua vitória com bons desempenhos", disse Austin. "Não parece ter passado por aquela sensação de depressão que surge para muita gente depois de um ótimo resultado como aquele. Foi bom ver que isso aconteceu, que ela manteve o foco e soube lidar com a pressão. Na minha opinião, Osaka, Aryna Sabalenka e Sloane Stephens são as tenistas que vejo como dotadas de potencial verdadeiro de segurar suas posições e chegar ao topo".

Sabalenka, número 73 no ranking no começo do ano, disparou até o 15º posto depois de contratar o cerebral Dmitry Tursunov, que esteve entre os 20 mais do ranking masculino em sua passagem pelas quadras, como treinador. Ele a ajudou a fazer uso mais seletivo de suas melhores armas. De junho para cá, Sabalenka tem oito vitórias sobre atletas do Top 10.

Stephen, 25, passou por uma fase ruim no começo da temporada mas se recuperou de maneira convincente: venceu o Aberto de Miami, chegou à final do Aberto da França e se qualificou para sua primeira participação nas finais da WTA. Seu forehand e sua cobertura de quadra são excelentes. Mas ainda lhe falta consistência, algo que pode ser dito sobre muitas das atletas no topo do ranking do tênis feminino.

"Honestamente não sei como as coisas ficarão", disse Austin. "Este ano certamente houve muitas surpresas, e por isso me arrisco a dizer que teremos um número parecido de surpresas no ano que vem".

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