Filme sobre Santos não é uma goleada com Pelé, mas tem saldo positivo

Quando Ricardo Oliveira apareceu na tela lembrando seus gols mais marcantes pelo Santos, alguém da plateia gritou: “Volta!”. Hoje no Atlético Mineiro, o atacante de 38 anos teve duas passagens pelo time do litoral paulista, a primeira em 2003 e a outra entre 2015 e 2017.
 
Em uma sessão do recém-lançado documentário “Santos de Todos os Gols” acompanhada pela Folha na segunda (22), os torcedores-espectadores voltaram a lamentar o gol perdido por Nilson na final da Copa do Brasil em 2015. Quando os letreiros subiram, a sala de cinema virou arquibancada ao som de um grito de guerra da Torcida Jovem.

O filme de Lina Chamie não tem a força para levar o público à catarse que se vê num estádio —na verdade, nem há essa pretensão. Mas busca ao menos reproduzir a expectativa que precede o gol e o arrebatamento provocado pelo arremate que vence o goleiro.

 “Santos de Todos os Gols” não se preocupa em contar a bem-sucedida história do time, até porque a mesma diretora já havia feito isso em “Santos - 100 Anos de Futebol Arte” (2012). O novo documentário se concentra nas sensações que o futebol proporciona, mais entregue à intuição do que à lógica.
 
Nesse sentido, é curioso acompanhar dois intelectuais lembrando o gol de Neymar pelo Santos contra o Flamengo em 2011. O ensaísta e compositor José Miguel Wisnik e o artista plástico e escritor Nuno Ramos vibram como meninos ao descrever os detalhes da jogada, que rendeu ao atacante o prêmio Puskas de gol mais bonito daquele ano.

 

O filme também cresce com o depoimento de Pelé, que se recorda das suas orações para que as partidas não acabassem em 0 a 0. Pepe e Edu fazem comentários curiosos. Pena que a participação de Coutinho, que morreu em março deste ano, seja tão breve.
 
“Santos de Todos os Gols”, por outro lado, se enfraquece ao dedicar demasiado espaço a jovens atletas que dificilmente serão lembrados daqui a 20 ou 30 anos, como o lateral Zeca, que trocou o Santos pelo Internacional no ano passado. É bom jogador, mas custa crer que possa se aproximar da importância de Leo, ex-lateral santista também presente no documentário.
 
O documentário faz justiça ao destacar o time de Diego e Robinho, campeão brasileiro em 2002 e 2004. Mas a visita dos dois jogadores à Vila Belmiro, acompanhada pelo filme, é frustrante. A inibição deles diante da câmera se opõe à descontração que os santistas se acostumaram a ver dentro de campo.
 
Apesar dos tropeços, o saldo é positivo. Não é uma goleada com Pelé, mas um 1 a 0 com Rodrygo.

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