Fantasia não fará Michelle Bolsonaro convencer como Lady Di

Nos primeiros cem dias de governo Bolsonaro, a primeira-dama não se encastelou no palácio. Logo após a recuperação do marido, foi às ruas, viajou o país para apoiar projetos sociais e chorou as mazelas de seu povo sem fazer alarde nas redes sociais. É essa a imagem de Michelle Bolsonaro que a equipe de comunicação do Planalto parece querer vender ao mostrá-la como espécie de Lady Di dos trópicos.

Referências a Diana Spencer (1961-1997), a “princesa do povo”, vão além do vestido branco sem mangas combinado a colar de pérolas que a brasileira usou na última sexta-feira (5), em Brasília, durante uma cerimônia para generais, e é idêntico a um dos looks da ex-monarca inglesa.

Visitas a famílias carentes, como a que fez no início do mês em Campina Grande (PB) no programa Criança Feliz, serão ferramentas usadas para equalizar o discurso bélico de seu clã e tentar amaciar os críticos.

Não parece coincidência que a foto na qual ela aparece chorando abraçada a um jovem com epidermolise bolhosa, em sua primeira viagem oficial, tenha sido supostamente vazada pela ministra Damares Alves logo após a visita de Jair Bolsonaro a Israel e pouco depois do deputado federal Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) desejar que o grupo islâmico Hamas se exploda.

O afã de realeza da família já deu as caras na posse, quando o presidente quebrou o protocolo e colocou um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro, para desfilar com ele no Rolls-Royce. Ao lado, a mulher acenava trajada com um vestido rosa, também inspirado em um outro de Lady Di, só que sem as listras pretas aplicadas no decote canoa e na barra simétrica.

Ainda que não possua um guarda-roupa oficial extenso, a primeira-dama prometeu que leiloaria os vestidos, desenhados e doados pela estilista Marie Lafayette. Fã confessa de famílias reais, a designer paulista radicada no Rio de Janeiro diz ser tataraneta do militar francês Marquês de Lafayette.

Mesmo que prefira seguir um perfil discreto, Michelle Bolsonaro já desfez a pecha de mulher decorativa logo antes de subir a rampa do planalto. Nos últimos dias de dezembro, na despedida do Rio organizada por membros de sua igreja, fez pose para a foto em frente a uma parede com imagens de primeiras-damas, líderes e princesas.

No alto, sua foto colorida se destacava dos quadros em preto e branco da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, da ex-primeira-dama americana Michelle Obama, da princesa Isabel, de Lady Di e até da atriz Nacha Guevara trajada como a ex-primeira-dama argentina Eva Perón. Em comum a elas está o fato de não terem deixado ser eclipsadas pelos homens.

Essas referências imagéticas são óbvias e dizem muito sobre as expectativas depositadas na primeira-dama. Mas será preciso bem mais do que uma fantasia se o governo quiser costurar um discurso crível e convencer a audiência de que Michelle Bolsonaro pode ser mais do que apenas a mulher do presidente. 

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