Falta de pessoal ameaça pesquisas do IBGE no ano que vem, diz instituto

O IBGE (Instituto Brasileiro de Economia e Estatística), responsável no país pelas principais pesquisas sobre atividade econômica, mercado de trabalho e condições de vida da população, está ameaçado pela falta de pessoal, segundo o próprio instituto divulgou em nota na última segunda-feira (12). 

O instituto perdeu, nos últimos dez anos, cerca de um terço de sua força de trabalho, hoje em 5.030 funcionários. Nos últimos dez anos, 2.400 funcionários deixaram o instituto, a maior parte em razão de aposentadoria. 

Segundo o IBGE, essas vagas não teriam sido repostas e o instituto teme que o quadro seja agravado no próximo ano, em razão de volume grande de aposentadorias em vias de vencer. 

A falta de mão de obra atrelada a um aperto no orçamento, que levaria à impossibilidade de contratações pontuais, poderá comprometer a realização de pesquisas essenciais e que já estavam agendadas, como o Censo 2020, uma atualização da população brasileira uma década depois do último levantamento demográfico. 

O instituto afirma que somente um novo concurso público, para o preenchimento de 1.800 vagas, poderia fazer frente a "situação-limite". 

"Essa crise ameaça todo o plano de trabalho do Instituto, incluindo a realização do Censo Demográfico 2020, que já se encontra em planejamento", afirma o instituto em nota.

De acordo com diretor executivo do IBGE, Fernando Abrantes, a queda de pessoal acarreta em maiores custos para realização de pesquisas, atrasos na coleta de dados e dificuldades em ampliação da abrangência territorial das pesquisas. 

O instituto possui atualmente 583 agências regionais, das quais 232 operam com apenas dois servidores e outras 61, com apenas um servidor. Essas últimas estão sob risco de fecharem "nos próximos meses", segundo o IBGE. Nos últimos quatro anos, 16 agências regionais foram fechadas porque seus servidores se aposentaram e não houve reposição. 

Com relação ao Censo, o presidente do IBGE, Roberto Olinto, já havia dito em outras oportunidades que busca formas de viabilizar a pesquisa dentro do prazo. 

Uma das ideias seria repetir modelo adotado no Censo Agropecuário, que sofreu com atrasos nos trabalhos em razão da falta de recursos, mas que foi viabilizado, em parte, devido a emendas parlamentares, que garantiram verbas adicionais para conclusão da pesquisa.

Presidente do IBGE à época, o economista Paulo Rabelo de Castro, conseguiu no ano passado que deputados simpáticos à causa ruralista fizessem emendas parlamentares para a realização da pesquisa, que buscou mensurar, entre outras coisas, a quantidade de cabeças de gado no país. Emendas são pedidos que deputados e senadores fazem para incluir despesas específicas no Orçamento da União. 

Em nota nesta segunda (12), o IBGE reafirmou o temor de que a realização do Censo 2020 estaria ameaçada, "diante da avalanche de aposentadorias sem a reposição do quadro". 

Nesse aspecto, o concurso público para a contratação de novos servidores é apontado como a saída imprescindível para "evitar a descontinuidade de atividades essenciais do instituto". 

"No entanto, até o momento não foram concedidas autorizações para os pleitos apresentados", afirma a nota, que lembra que o IBGE faz censos demográficos no Brasil desde 1940. 

Os dados demográficos dos municípios, por exemplo, são utilizados como base para o cálculo dos fatores para a divisão do Fundo de Participação dos Municípios e a atualização de políticas públicas, tais quais o Bolsa Família e as metas do Plano Nacional de Educação. 

Além do Censo, o IBGE é responsável, por exemplo, pelo cálculo da inflação média do país, medido pelo o IPCA e que é utilizado pelo Banco Central para calibrar as taxas de juros e as metas de inflação.

Também estão sob a responsabilidade do instituto o cálculo do PIB (Produto Interno Bruto), a produção industrial, o desemprego e as vendas do comércio varejista e do setor de serviços.

Recentemente, além da falta de recursos humanos, uma declaração do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), também levou tensão aos corredores do IBGE.

Bolsonaro criticou, em entrevista no último dia 5, a metodologia para o cálculo do indicador oficial de desemprego do país, sugerindo que poderiam haver mudanças durante seu governo.

Ele afirmou que a Pnad Contínua, pesquisa de desemprego de abrangência nacional do instituto, seria uma "farsa" por supostamente considerar como empregadas pessoas que de fato não estariam ocupadas. 

O presidente eleito, contudo, utilizou informações incorretas em sua crítica. Bolsonaro chegou a dizer que beneficiários do Bolsa Família, por exemplo, seriam considerados como empregados pela pesquisa, o que não é totalmente verdade. 

Beneficiários de programas sociais só entram nas estatísticas como empregados se estiverem de fato em uma ocupação na semana de referência da pesquisa. Se não estiverem ocupados, mas tomando medidas para conseguir emprego, entram na estatística como desocupados. O fato de receberem ajuda do governo não muda sua condição na pesquisa.

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