Fabrício Corsaletti faz infância brotar de rimas e poesias

Uma das graças de escrever um poema rimado é que nem sempre o autor decide tudo o que vai ser escrito. Muitas vezes, são os sons e as métricas que impõem o que vai ser dito e escolhem os caminhos que a poesia vai trilhar.

Há quase dois anos, em um papo com o escritor e colunista da Folha Fabrício Corsaletti, ele chamou a atenção para isso. Na época, lançava o livro “Baladas” (Companhia das Letras), com poemas de forma fixa e ilustrações de Caco Galhardo. A conversa foi publicada na Ilustrada e pode ser lida aqui.

“Minha poesia geralmente é mais em verso livre e branco. Mas gosto da métrica, da rima. Elas me fazem afirmar coisas que jamais falaria”, comentou na época.

Se, por um lado, os sons e a métrica fazem surgir palavras inusitadas que muitas vezes assumem o volante e guiam a narrativa; se, por outro, a infância é a fase do inesperado, do nonsense e das descobertas; como Corsaletti juntaria tudo isso em um livro infantil?

A resposta está no recém-lançado “Poemas com Macarrão”, da Companhia das Letrinhas.

Ilustração de Jana Glatt para “Poemas com Macarrão” (Divulgação)

Nele, o autor explora uma poesia mais pé no chão, que funciona quase como uma crônica feita em versos, cheia de pequenas surpresas. Embora as formas não sejam todas iguais, grande parte dos poemas são feitos com estrofes de quatro linhas, rimas alternadas e sete sílabas poéticas –o que acaba dialogando com canções infantis, trovas feitas para serem decoradas e até folhetos de cordel.

É a partir daí que desponta o menino que inventou um incêndio e se sentiu um gênio. Ou o cavalo que trota e parece que usa bota. Aquele mesmo que dorme na grama e come a própria cama. E a velha maluca que põe o pé na grama-tapete e sonha com uma piscina de sorvete.

Por caminhar pelo universo da imaginação, “Poemas com Macarrão” consegue ser ainda mais solto e sem amarras do que as obras anteriores do escritor, seja as para adultos ou seja as para crianças (Corsaletti é autor de outros três livros infantis: “Zoo”, “Zoo Zureta” e Zoo Zoado”, publicados entre 2005 e 2014).

Enquanto crianças caem na risada com o imprevisível, leitores mais velhos encontram no título um respiro ao dia a dia. É como se, a partir da leitura, surgisse uma fronteira. Do lado de lá, ficam as dores, a tristeza e o ódio que brotam de todos os cantos ultimamente. Do lado de cá, estão o afeto, a macarronada da mãe, as lembranças da meninice, as brincadeiras tradicionais, o tempo mais arrastado.

Ou seja, um mundo mais leve e possível, preocupado com coisas importantes que esquecemos pelo caminho. Para encontrá-las, basta seguir o último verso do último poema do livro:

 

assim, nas noites sem lua

quando a angústia vira breu

fecho os olhos, vejo o parque

e era uma vez lá vou eu…

 

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“Poemas com Macarrão”

Autor Fabrício Corsaletti

Ilustradora Jana Glatt

Editora Companhia das Letrinhas

Preço R$ 39,90 (2018, 48 págs.)

Leitor intermediário + leitura compartilhada

 

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