Ex-secretário do Rio diz que empresário era cartão de visitas para multinacionais

O ex-secretário da Saúde do Rio de Janeiro Sérgio Côrtes afirmou que o empresário Miguel Iskin, preso na quarta-feira (4) na Operação Ressonância, era um “cartão de visitas” para diversas multinacionais no país.

Também alvo das investigações, o ex-secretário afirma que nunca discutiu propina com as empresas internacionais. Mas diz que todas sabiam do relacionamento próximo entre ele e Iskin e se beneficiaram disso.

“Nunca foi falado de propina [com as multinacionais]. Eles nunca venderam para o estado. Mas eles sabiam que era um cartão de visita estar, quer com o Miguel, quer com outro empresário, para que eles pudessem vender. Eles nunca tinham vendido para o estado, ou naquele volume vendido no setor público”, disse Côrtes.

A declaração foi dada ao juiz Marcelo Bretas em março, em interrogatório da Operação Fatura Exposta.
Côrtes depôs nesta quinta (5) à Polícia Federal, mas o depoimento não foi divulgado.

Estão sob investigação multinacionais como Philips, Johnson & Johnson e outras grandes especializadas em medicina.

O principal executivo da GE na América Latina, Daurio Sperazini Junior, também foi preso. As principais suspeitas sobre ele são referentes ao período em que esteve na Philips, mas a Procuradoria afirma que ele “permaneceu realizando as contratações espúrias com o poder público” na empresa norte-americana.

Iskin é apontado como o organizador do cartel em pregões internacionais na Secretaria de Saúde e no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia desde 1996. As investigações apontam que ele cobrava até 40% de comissão dos fabricantes de produtos para garantir a vitória nos certames. Esse valor era usado, segundo o Ministério Público Federal, para pagar propina a agentes públicos.

Côrtes confessou ter recebido propina de Iskin, mas negou fraudes às licitações. Disse que Iskin tinha vantagem competitiva em razão das informações privilegiadas que possuía na secretaria.

“Miguel conhecia todos os nosso grandes projetos para a área da saúde. Conversava com ele para se preparar e trazer as grandes fabricantes. Ele já tinha conhecimento, ia às fábricas fazer grandes negociações pelo volume que seria de aquisição de materiais, e com isso ele conseguia grandes descontos”, afirmou o ex-secretário em março.

“Não existia superfaturamento, mas a margem [de lucro] dele era muito grande. Desta margem é que vinha o dinheiro para mim”, disse ele, que devolveu US$ 4,2 milhões depositados no exterior à Justiça Federal. O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) também é acusado de ser o destino dos recursos ilegais do empresário. Ele nega.

A confissão do ex-secretário é vista com reservas no Ministério Público Federal. Procuradores avaliam que ele não relatou todos os fatos criminosos de que se beneficiou.

OUTRO LADO

A defesa de Miguel Iskin afirmou que o empresário nega as suspeitas levantadas pelo MPF. Afirma que “não houve licitação vencida pela Oscar Iskin [nome da firma] na qual o preço não fosse o de mercado, ou seja, o correto”. Também nega ter pago propina a qualquer agente público.

A defesa diz também que Iskin sofreu “mais uma prisão ilegal que será revogada pelos tribunais brasileiros”.

A Philips afirmou, em nota, que “está cooperando com as autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos quanto às alegações apresentadas”. “A política da Philips é realizar negócios de acordo com todas as leis, regras e regulamentos aplicáveis”, diz a nota.

A Johnson & Johnson declarou, em nota, que “segue rigorosamente as leis do país e está colaborando com as investigações”. A GE disse, em nota, que “não é alvo das investigações”.

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