Ex-presidente do Real dá versão sobre saídas de Zidane e Cristiano Ronaldo

As saídas de Cristiano Ronaldo e de Zinédine Zidane do Real Madrid, pouco depois de o clube espanhol faturar, em maio do ano passado, sua 13ª Liga dos Campeões da Europa (a terceira consecutiva), nunca foram bem explicadas ou entendidas.

É sempre difícil compreender por que um jogador ou um treinador opta por se desligar de um time quando esse time está por cima e quando esse jogador ou esse treinador também estão por cima.

Ao decidir se transferir para a Juventus, o excepcional atacante português declarou que havia chegado, depois de nove anos vestindo a camisa merengue, “o momento de um novo ciclo”.

Já o técnico francês, ao anunciar o adeus, o fez com uma justificativa para lá de enigmática: “Se não vejo com clareza que vamos continuar ganhando, é melhor mudar para não continuar e fazer besteiras”.

Passados mais de oito meses dos acontecimentos, Ramón Calderón, ex-presidente do Real (2006-2009), afirmou saber a razão da decisão de ambos, em entrevista à rádio Villa Trinidad, da Argentina.

No caso de Cristiano Ronaldo, disse ele, seriam dois os motivos.

O primeiro: “Cristiano pediu um reajuste salarial depois de vencer a Champions [League], e Florentino recusou”.

O segundo: “Cristiano também ficou bravo porque ouviu que o Real planejava pagar muito dinheiro para ter Neymar. Florentino lhe disse que, se chegasse um cheque de € 100 milhões, ele o deixaria partir, e foi o que aconteceu”.

Em julho, houve o anúncio de que a Juventus, da Itália, pagou exatamente essa quantia ao Real pelo português.

O Florentino mencionado por Calderón é Florentino Pérez, presidente do Real desde 2009.

O ex-presidente declarou ainda que Pérez nunca aceitou que Cristiano Ronaldo não havia sido uma contratação dele, mas da gestão anterior, ou seja, de Calderón.

Em relação a Zidane, Calderón relatou que o treinador estava desesperado para manter o cinco vezes melhor do mundo no elenco e para que o galês Gareth Bale, mais cara aquisição da história do Real (€ 100 milhões, em 2013), fosse vendido.

“O presidente fez o oposto”, afirmou o ex-dirigente ao site americano Bleacher Report. “Zidane também queria contratar alguns jogadores e negociar outros além de Bale, mas ele não conseguiu, então decidiu sair.”

Essa é a versão de Calderón, e não dá para saber se é verdadeira. É necessário que mais gente a corrobore.

O que é possível, por ora, é relembrar os fatos.

Eu acompanhei in loco em Kiev (Ucrânia) a decisão da Champions League 2017/2018, quando Cristiano Ronaldo não teve um grande desempenho e Bale foi o nome do jogo ao entrar no segundo tempo e fazer dois gols no triunfo por 3 a 1 sobre o Liverpool.

Após a partida, o galês deixou transparecer, em meio a sorrisos pela conquista, insatisfação por Zidane não o escalar como titular – não apenas naquela final, mas em partidas anteriores. Deu a entender que, se a situação não mudasse, avaliaria deixar o Real.

Zidane, por seu lado, mostrava preocupação com declaração de Cristiano Ronaldo, feita ao término do jogo, em tom de despedida, de que “foi muito bonito estar no Real Madrid”. O francês afirmou que o CR7 deveria ficar.

O que aconteceu depois?

Zidane saiu, quase de imediato, bem antes de Cristiano Ronaldo, que chegou a blefar para a torcida, dizendo que ficaria, em festa na capital espanhola. Quem permaneceu foi Bale.

Ou seja, a narração de Calderón tem alguma sustentação, não há absurdos nela, mas faria mais sentido caso Zidane se desligasse do Real em momento posterior ao CR7.

A não ser que Zidane tivesse a nítida sensação, e isso só se tem ao estar dia a dia no clube, de que seu artilheiro realmente iria embora. É plausível esse raciocínio.

Isso exposto, como estão hoje os personagens citados por Calderón?

Zidane, que declarou em setembro que estava prestes a voltar à ativa, ainda está em período sabático. Ventilou-se que assumiria o Manchester United após a queda de José Mourinho, mas não aconteceu.

Neymar, que de acordo com Calderón teria tido influência na decisão de Cristiano Ronaldo, continua no Paris Saint-Germain, em recuperação de lesão.

Bale tem tido altos e baixos no Real – é assim desde sua chegada –, com contusões que o impedem de ter uma boa sequência de jogos – foram nada menos que 18 afastamentos por lesão desde a temporada 2013/2014. Ele é muito bom, mas não alcançará o estrelato de Cristiano Ronaldo.

O CR7, astro principal da Juventus, como se esperava, está em vias de ser eliminado com a equipe da Liga dos Campeões. No jogo de ida das oitavas de final, derrota por 2 a 0, fora de casa, para o Atlético de Madri. Ele precisará jogar muito para não amargar uma grande frustração em 12 de março, dia do jogo de volta, em Turim.

Por fim, Florentino Pérez. Seu Real Madrid, sem Cristiano Ronaldo mas com Bale e Modric (o atual melhor do mundo) jogando bem, sagrou-se campeão mundial em dezembro. E segue firme na Champions, sempre a maior prioridade do clube: ganhou por 2 a 1, como visitante, do Ajax na ida das oitavas.

Leia também: Neymar não é o favorito para substituir Cristiano Ronaldo no Real Madrid

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