Europa dificulta empreitada dos EUA em boicotar a Huawei no mercado global

A campanha de Washington para convencer aliados europeus mais próximos dos Estados Unidos a abandonar o uso de equipamentos de telecomunicação fabricados por empresas chinesas enfrenta obstáculos.

Os países europeus estão escutando os Estados Unidos com atenção, e em breve tomarão a decisão final sobre permitir ou não o uso de equipamentos da Huawei e da ZTE em suas redes nacionais de telecomunicações. 

As empresas, no entanto, estão complicando a decisão. Os executivos dizem que a Huawei oferece hardware superior, a preços mais baixos, e que uma proibição significaria desvantagem da Europa diante da Ásia no lançamento das redes 5G.

Uma proibição total “teria custos financeiros significativos, causaria perturbações consideráveis aos consumidores e retardaria o lançamento do 5G em diversos países”, disse Nick Read, presidente-executivo do Vodafone Group.

As quatro grandes operadoras britânicas de telefonia móvel —Vodafone, BT Group, O2 (parte do grupo Telefónica) e Three —acautelaram contra uma proibição. As companhias de telefonia menores preferem equipamento chinês.

A Jersey Telecom, estatal de telefonia que atende à ilha de Jersey, território britânico no canal da Mancha, solicitou propostas multimilionárias de fornecedores chineses e ocidentais em 2014.

A empresa precisava de equipamento para montar sua atual rede de telefonia móvel. A proposta da Huawei foi 20% mais baixa que a menor proposta de um rival ocidental, e a da ZTE foi 40% inferior, disse Graeme Millar, presidente-executivo da Jersey Telecom, que optou pela ZTE.

Os líderes dos EUA afirmam que a China poderia ordenar que empregados da Huawei e ZTE usassem seu conhecimento de como os equipamentos funcionam para espionar comunicações.

As duas empresas alegam que não haveria maneira de isso acontecer. Depois de proibir o uso de equipamentos de fornecedores chineses nos EUA, Washington começou a estender sua campanha ao exterior no final do ano passado.

O presidente-executivo de uma grande operadora italiana de telefonia móvel foi convocado à embaixada americana em Roma no final de 2018, e agentes de inteligência e diplomatas pediram que a companhia deixasse de usar equipamentos da Huawei, sem lhe mostrar quaisquer provas do que afirmavam. 

A operadora continua a usar equipamentos da Huawei e, segundo uma fonte, alega que “não existe substituto no mercado”.

Um representante do Departamento de Estado americano disse que Washington concentra seus esforços de lobby na Europa, e não em países em desenvolvimento.

Isso porque o continente está mais próximo de lançar redes 5G —tecnologia de alta velocidade que permitirá carros autônomos, componentes industriais e objetos conectados à internet —e assim ficará mais vulnerável a hackers.

O maior esforço de Washington é em influenciar aliados contra a Huawei, que é a maior fabricante mundial de equipamento de telecomunicações e muito maior do que a ZTE.

A Alemanha, depois de expressar ceticismo sobre a preocupação dos EUA, diz estudar uma proibição. No Reino Unido, o governo planeja concluir uma revisão formal da cadeia de suprimento do setor de telecomunicações do país até o segundo trimestre.

Executivos britânicos dizem que a Huawei pode lançar algumas tecnologias 5G no mercado até um ano antes de rivais ocidentais. Além disso, algumas operadoras de telefonia já assinaram contratos com a Huawei para equipamento 5G.

Um executivo sênior de uma operadora disse que proibir os equipamentos da chinesa poderia retardar o lançamento de redes 5G por sua empresa em 18 meses. 

A companhia precisaria de meses para solicitar propostas de fornecedores alternativos, testar o equipamento, e esperar ainda mais tempo para que a Ericsson, da Suécia, e a Nokia, da Finlândia, as duas únicas rivais não chinesas da Huawei, lançassem produtos finais comparáveis, afirmou o executivo.

A Ericsson e a Nokia afirmam que suas recentes vendas provam que elas são capazes de produzir equipamentos competitivos. 

Em 2017, a Huawei liderou o mercado europeu de equipamento para telecomunicações, com 31% das vendas, de acordo com a empresa de pesquisa Dell’Oro Group. A Ericsson detinha 29% do mercado e a Nokia 21%.

Como é a disputa entre EUA x Huawei/ZTE

2012
• Um relatório de inteligência americano elaborado com base em uma investigação de 11 meses recomendou que operadoras americanas não comprassem equipamentos das chinesas Huawei e ZTE

• As duas empresas foram relacionadas ao governo chinês, que poderia espionar comunicações dos EUA

2017
• O Departamento de Comércio dos EUA acusou a ZTE de burlar as sanções americanas ao Irã e à Coreia do Norte, vendendo equipamentos a esses países

2018
• Com a intensificação da guerra comercial entre China e EUA, o governo de Trump fechou o cerco às empresas

• Em abril, os EUA proibiram a ZTE de comprar tecnologia americana

• Em agosto, Trump assinou uma lei que determinou que o governo não usasse equipamentos das duas empresas, sob os mesmos argumentos anteriores

• Em dezembro, Meng Wanzhou, chefe de operações financeiras da gigante chinesa Huawei e filha do fundador, foi detida a pedido dos EUA no Canadá

• Um juiz canadense concedeu liberdade condicional a Meng, sob a garantia do pagamento de uma fiança de 10 milhões de dólares canadenses

• Ainda em dezembro, outro executivo da Huawei foi detido na Polônia

2019
• Em 28 de janeiro, o Departamento de Justiça dos EUA acusou a Huawei por roubo de segredos comerciais, obstrução da Justiça e apoio a bancos para desvio das sanções ao Irã. Também determinou a extradição de Meng

• Um dia depois, a China disse que o caso é fruto de uma manipulação política americana

• As companhias, que vêm se tornando dominantes no mercado global, sempre discordaram das acusações

Traduzido do inglês por Paulo Migliacci 

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