Esta é a primeira fotografia de um buraco negro. Está feita história

Não é tão impressionante como muitas das ilustrações que nos habituámos a ver, e sobretudo das animações em filmes e jogos, mas esta fotografia é mesmo real, e é a primeira vez que cientistas conseguem captar um fenómeno que é invisivel ao olho humano, um buraco negro.

Seis conferências simultâneas em todo o mundo acompanharam a apresentação da descoberta, que também teve apoio europeu, como sublinhou Carlos Moedas, o comissário europeu responsável pela área da ciência. "Este é o momento mais entusiasmante desde que tomei posse em 2014", afirmou, assegurando que esta é uma descoberta relevante para a humanidade e que comprova a ideia de Einstein com a Teoria da Relatividade, em 1905. "Einstein não conseguia imaginar o impacto do que imaginou", afirma, defendendo que hoje a ciência dá uma lição à política por conseguir juntar cientistas de 14 países e mostrando que a ciência deve ser aberta.

Carlos Moedas citou ainda Stephen Hawking que dizia que muitas vezes os factos são mais estranhos do que a ciência e em nenhum outro tema é mais real do que nos buracos negros. "Os buracos negros são mais estranhos do que algo sonhado pelos autores da ficção científica mas são claramente matéria de ciência", citou o comissário europeu.

A imagem captada parece um anel de fogo, porque a luz é captada para o buraco negro, que "é enorme" e tem um diâmetro de centenas de milhares de milhões de quilómetros, como explica Heino Falcke, Chair do EHT Science Council, na apresentação pública. O que se vê é a luz que é produzida pelo plasma brilhante, e a sombra, que é na verdade o buraco negro.

"Parece que estamos a olhar para os portões do inferno, o fim do horizonte que conhecemos", afirmou.

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Legenda: Topo à esquerda: simulação da Sgr A* a 86 GHz. Top à direita: simulação com efeitos de dispersão adicionados. Em baixo à direita: imagens de dispersão das observações, a forma como vemos o Sgr A* no céu. Em baixo à esquerda: A imagem sem dispersão depois de remover esses efeitos, que realmente representa o Sgr A*.

Os buracos negros são um fenómeno conhecido por todos, até por crianças, mas dificil de explicar em física, pelo facto de criar uma região com uma singularidade onde parece que as leis da física não se aplicam, onde a gravidade é tão poderosa que parece que nada a pode penetrar, nem luz, e pelo facto de nada poder voltar dessa região, adiantou Luciano Rezzolla, professor de astrofísica da Goethe University Frankfurt. "Isso causa um problema para os físicos, que querem explicar tudo", e esta imagem prova de facto que os buracos negros existem.

Os dados vão agora ficar disponíveis para quem os quiser analisar e vão ser hoje publicados artigos em seis jornais científicos com todas as descobertas já baseadas nesta descoberta. "Esta não é a história de um herói, há muitos heróis nesta história", sublinhou Eduardo Ros do Max Planck Institute of Radio Astronomy.

A importância da fotografia do buraco negro

Os buracos negros continuam a constituir um dos maiores desafios e mistérios para a física e por isso mesmo são objeto de muitos estudos e investigação científica, mas o anúncio da equipa de cientistas do Event Horizon Telescope pode ajudar a desvendar alguns dos segredos.

Impossíveis de ver a olho nú, uma vez que são tão densos que nenhuma luz pode escapar, os buracos negros têm sido representados visualmente em muitas ilustrações artísticas mostrando habitualmente um buraco preto, rodeado de uma nuvem de gás brilhante como a de muitas imagens que nos habituámos a ver também em filmes.

A imagem que foi revelada hoje resulta de uma colaboração que envolveu oito telescópios e uma equipa alargada de mais de 200 cientistas de 14 países, reunidos no Event Horizon Telescope que recorreu à tecnologia para combinar o poder dos vários equipamentos e criar um telescópio virtual tão grande como a própria Terra, e que é poderoso o suficiente para capturar dados suficientes do buraco negro supermassivo no centro de nossa galáxia. Para já é o mais perto que vamos conseguir chegar de um buraco negro sem ser engolidos pela sua massiva atração gravitacional.

São 13 anos de investigação de astrofísicos, e dois de colaboração entre as várias equipas e a comunidade científica mostra o seu entusiasmo pelo acontecimento que pode ajudar a provar uma parte da Teoria da Relatividade de Einstein.

Como se fez a fotografia do buraco negro?

Mais do que a "fotografia" em si o que os cientistas pretendem é perceber a verdadeira  natureza dos buracos negros e como eles são moldados. Também poderemos descobrir mais sobre como alguns buracos negros se transformam para representar milhões a milhares de milhões de vezes a massa do nosso Sol.

O Event Horizon Telescope observou dois buracos negros durante uma semana em abril de 2017: Sagitário A *, o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, e M87, que se acredita estar no centro de uma galáxia próxima chamada Virgem.

Ambos os objetos são incrivelmente densos e  acredita-se que Sagitário A *, ou SgrA *, tenha uma massa 6,5 mil milhões de vezes maior do que o nosso Sol. Mas por estar tão distante - uma distância de cerca de 55 milhões de anos-luz - o buraco negro aparece nos telescópicos na Terra como se fosse do tamanho de uma pequena bola na superfície da Lua.

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Para ultrapassar esta limitação a equipa da Event Horizon utilizou telescópios no Chile, Havai, Arizona, Polo Sul e em diversas outras localizações de toddo mundo. Cada telescópio mediu a radiação proveniente das grandes áreas de gás e poeira que se acredita cercarem os buracos negros.

Essas nuvens de gás aquecem até milhares de milhões de graus e, como o material é tão quente, emitem muita radiação, que pode ser observada da Terra. Todos estes dados foram então combinados usando supercomputador para criar uma imagem que parecia ter sido obtida por  um único telescópio gigante.

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É precisamente o volume de dados que faz com que a investigação tenha durado tanto tempo, e que obrigue a esta escala do projeto. Os telescópios captam uma quantidade enorme de informação em cada noite de observação - cerca de um petabyte, ou um milhão de gigabytes e por isso foi necessário que a tecnologia do disco rígido evoluísse para que pudesse armazenar e gerir o volume de dados reunidos nesta investigação.

O resultado pode mudar nossa compreensão dos buracos negros, que os cientistas acreditam que deixam uma marca no espaço-tempo, distorcendo a gravidade e criando efeitos estranhos à sua volta. "Há um antes e um depois desta fotografia", sublinham os cientistas na apresentação pública.

Nota da Redação: A notícia foi atualizada durante a conferência de imprensa. Última atualização 15h08.

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