Emergentes podem liderar transformação digital por necessidade, diz especialista

Inovação movida por necessidade. É isso que pode fazer a diferença para mercados emergentes se tornarem referência como sociedades digitais, segundo Arthur Goldstuck, fundador da World Wide Worx, organização sul-africana de pesquisa em tecnologia.

A pergunta “as primeiras sociedades realmente digitais podem ser um ‘mercado emergente’?” foi, nesta quinta-feira (28), o tema de um dos últimos painéis do Mobile World Congress, principal evento de tecnologia móvel do mundo, em Barcelona.

“No Vale do Silício, a inovação é movida por encontrar-se uma oportunidade e uma forma eficiente de suprir. Nos mercados emergentes, a inovação acontece por necessidade pura”, afirmou Goldstuck.

Um exemplo citado por ele foi da África do Sul. Por lá, as empresas de tecnologia começaram a se proliferar para tentar resolver um problema enorme de roubos de carros, com soluções em internet das coisas (IoT). “Hoje são mais de 2 mil startups que receberam mais de U$ 50 bilhões [R$ 187 bi] em financiamento”, disse.

Michel Rogy, gerente para desenvolvimento digital na África e Oriente Médio do Banco Mundial, disse concordar com a afirmação e deu o caminho das pedras para que países em desenvolvimento se tornarem uma sociedade digital.

O primeiro passo é garantir banda larga de internet para todos. Também é necessária educação, para que o público saiba usar essa tecnologia.

Exemplo dessas necessidades foi dado por Gibran Huzfaiah, fundador da eFishery, da Indonésia, uma startup que fornece tecnologia de internet das coisas para piscicultura –nas palavras de Huzfaiah, a primeira “fishtech” do mundo.

O empresário conta que, antes do negócio vingar, precisou ir às fazendas que criavam peixes para dar uma espécie de curso introdutório de smartphones para as pessoas. Ensinou a usarem o básico, como redes sociais e email. A eFishery inclusive começou a manter um banco de dados com senhas dos clientes porque eles frequentemente ligavam pedindo ajuda porque as tinham esquecido.

“A revolução dos smartphones é muito voltada para as áreas urbanas”, afirmou. “Todos aqui [no evento de tecnologia] sabe o que são ‘configurações’ num telefone. Se eu falo ‘configurações’ por lá, ninguém sabe.”

Desenvolver negócios que possibilitem as pessoas a fazerem e receberem pagamentos e o uso de tecnologia para criar novos negócios seriam os próximos passos, na avaliação do especialista do Banco Mundial.

Há também de se ter participação do governo. Eles precisam colocar seus sistemas online e podem contribuir para tornar uma sociedade digital uma realidade. “Todo país emergente pode se aproveitar da digitalização para dar um salto”, afirmou Rogy.

Em entrevista ao jornal oficial do MWC, a chefe de estratégia, marketing e inovação voltada a identidade digital da Gemalto, Juana Catalina Rodriguez, disse que a tecnologia é fundamental na transformação de negócios para um mundo mais virtual. Como exemplo, citou que alguns bancos usam identidade digital como forma de possibilitar abertura de contas remotamente.

Em economias emergentes, segundo Rodriguez, documentos digitais estão sendo usados por pessoas que antes não tinham nenhum registro oficial de identidade. “Eles não só diminuem o custo da operação, mas também aumentam a cobertura da identificação, acesso à educação, mercado de trabalho e saúde”, afirmou.

IDENTIDADE DIGITAL NO BRASIL

No último dia 12, durante evento da Microsoft em São Paulo, o secretário de Tecnologia da Informação e Comunicação do governo federal, Luis Felipe Salin Monteiro, disse que o Brasil trabalha na criação de uma identidade digital.

Ela se aproveitará dos dados de biometria coletados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para poder verificar que um cidadão físico é mesmo quem ele diz ser no mundo virtual.

Em 2018, o governo federal lançou o Documento Nacional de Identificação (DNI) digital nesses moldes, que está sendo reavaliado pela nova gestão.

Um próximo passo para essa digitalização deve ser um decreto, a ser publicado em breve, que torna o CPF numa chave única para acesso a serviços públicos.

Monteiro disse que o Brasil está atrasado no processo de digitalização em relação ao cenário internacional e que, por isso, deve acelerar.

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