Em novos protestos, venezuelanos pedem que militares não bloqueiem ajuda

Liderados por Juan Guaidó, reconhecido por quase 50 países como presidente interino da Venezuela, dezenas de milhares de opositores saíram às ruas nesta terça-feira (12) para pedir às Forças Armadas que não bloqueiem a ajuda humanitária americana, considerada pelo ditador Nicolás Maduro a porta de entrada para uma intervenção militar.

"Voltamos às ruas para exigir a entrada da ajuda humanitária que salvará a vida de mais de 300 mil venezuelanos que hoje estão em risco de morte", afirmou Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, de maioria opositora.

Aos gritos de "Liberdade" e "Guaidó", os opositores protestavam em todo o país. Em Caracas, reuniram-se na zona leste, onde Guaidó iria discursar na tarde desta terça.

As mobilizações coincidem com o Dia da Juventude, para recordar os 40 mortos nos protestos contra Maduro em janeiro. 

Em contrapartida, Maduro vai comandar uma passeata de jovens de esquerda contra a "intervenção imperialista" na praça Bolívar, centro de Caracas, onde o governo reúne assinaturas de repúdio ao presidente americano Donald Trump.

A disputa de poder entre Guaidó e Maduro se concentra nesta semana na ajuda humanitária. Alimentos e remédios permanecem há cinco dias em um depósito no lado colombiano da fronteira com a Venezuela.

Dois enormes contêineres e um caminhão bloqueiam a ponte Tienditas, que liga Cúcuta (Colômbia) a Ureña (Venezuela). Os militares venezuelanos reforçaram a presença no estado fronteiriço de Táchira.

A divergência acontece em plena crise econômica, com escassez de remédios e alimentos, em um país afetado pela hiperinflação. Quase 2,3 milhões de venezuelanos (7% da população) fugiram do país desde 2015, segundo a ONU.

Em uma tentativa de convencer as Forças Armadas, base de apoio do governo, Guaidó ofereceu anistia aos militares que não reconhecerem Maduro e advertiu que impedir a entrada de alimentos e medicamentos é um "crime contra a humanidade".

"Ou estão com a ditadura ou com o povo", disse o opositor de 35 anos, antes de afirmar que 120 mil voluntários se registraram para colaborar no processo.

Maduro, que chama de "show político" a chegada de ajuda, nega uma "emergência humanitária" e atribui a falta de medicamentos e alimentos a uma "guerra econômica" da direita e a duras sanções americanas.

Em entrevista à CNN, Maduro disse que a escassez de alimentos e medicamentos está sendo usada por Washington e pela oposição para dizer que em seu país há uma crise humanitária e, assim, justificar uma intervenção militar.

O ditador, no entanto, descartou o confronto entre suas tropas e os voluntários que se inscreveram para ajudar na distribuição de ajuda. "Não haverá repressão", disse Maduro.

Além disso, assegurou que as reservas de ouro que Caracas tem depositadas no Reino Unido chegam a 80 toneladas, e que acredita que as mesmas não serão confiscadas.

Com sérios problemas de liquidez agravados pelo colapso da produção de petróleo e sanções americanas, o governo venezuelano vem tentando repatriar suas reservas internacionais de ouro em Londres há meses.

"Espero que a legalidade internacional e o Banco Central da Venezuela sejam respeitados. Espero que a justiça prevaleça e que a Venezuela não seja expropriada de algo que lhe pertence", afirmou Maduro.

A Colômbia foi o primeiro ponto de chegada da doação americana. O Brasil aceitou instalar outro centro de ajuda no estado de Roraima.

Nos últimos dias, o governo distribuiu alimentos e remédios na região de fronteira com a Colômbia.

As Forças Armadas, que também chamam a ajuda de "show", organizam nesta semana exercícios militares ante uma eventual ação armada dos Estados Unidos, não descartada por Trump.

Uma conferência sobre ajuda humanitária, solicitada por Guaidó, acontecerá nesta quinta-feira (14) na sede da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Washington.

Nesta ocasião, Guaidó vai se pronunciar diante de 60 delegações internacionais, representantes do setor privado, ONGs e membros da sociedade civil.

"O presidente encarregado participará por videoconferência e explicará qual é a situação atual", afirmou o líder opositor em um comunicado.

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