Em derrota para Trump, americano deixa de comandar agência da ONU após 50 anos

Pela primeira vez em 50 anos, a agência de migrações da ONU não será dirigida por um americano, desbancado nas votações dos 172 membros pelo candidato português António Vitorino.

A vitória do português é uma derrota para os Estados Unidos, e alguns se perguntam se Trump reduzirá, como represália, algumas linhas de crédito à organização.

O posto de diretor da Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência com 172 Estados-membros e da qual os Estados Unidos são o principal contribuinte ao lado de países europeus, foi ocupado desde que a instituição foi criada em 1951 por americanos, com somente uma exceção entre 1961 e 1969, com o holandês Bastiaan Haveman.

Desta vez, o candidato designado por Washington, Ken Isaacs, não reuniu os votos necessários, sendo o primeiro eliminado.

Acusado de ser antimuçulmano e de não acreditar nas mudanças climáticas, Isaacs afirmou à AFP que nunca levava em conta a religião das pessoas necessitadas.

Designado candidato em fevereiro, Isaacs esteve no olho do furacão desde que o jornal Washington Post publicou uma série de comentários antimuçulmanos que divulgou entre 2015 e 2017 nas redes sociais. 

Em vários tuítes, que apagou após a polêmica suscitada, Isaacs afirmava, entre outras coisas, que o Corão “ordena” cometer atos violentos aos muçulmanos e sugeria que os refugiados cristãos deveriam ser prioritários em relação aos demais. 

Isaacs lamentou seus comentários “imprudentes”, e o Departamento de Estado considerou “apropriado” que se desculpasse por suas palavras.

A nomeação do novo diretor-geral da OIM acontece em um momento em que o governo Trump tem recebido várias críticas da ONU em relação à proibição da entrada em seu território de cidadãos de países majoritariamente muçulmanos e à sua recente decisão de separar crianças de seus pais migrantes, iniciativa que teve que abandonar pela forte pressão social nos EUA. 

Os membros da organização elegeram o ex-ministro português Antonio Vitorino, 61. A candidata costa-riquense Laura Thomson, atual diretora-adjunta da OIM, decidiu retirar seu nome após a quarta rodada de votação.

O novo diretor da OIM assumirá suas funções em 1º de outubro. Ele sucederá o americano William Lacy Swing, que cumpriu os dois mandatos de cinco anos.

Político e advogado, Vitorino entrou no Partido Socialista português durante a Revolução dos Cravos de 1974, quando ainda não tinha 18 anos. Eleito deputado pela primeira vez em 1980 foi secretário de Estado durante o governo de Mario Soares (1983-1985) e ministro durante o de António Guterres (1995-1997).

Vitorino afirmou nesta sexta-feira que é um “amigo próximo” de Guterres, atual secretário-geral da ONU. Segundo Guterres, ele é “um homem de bom conselho” e “o melhor de nossa geração”.

Foi eleito ao Parlamento Europeu em 1994, embora seja mais lembrado como Comissário Europeu na pasta de Justiça e Assuntos Interiores entre 1999 e 2004. Em 1997, se demitiu como ministro da Defesa de Portugal depois que um jornal o acusou de sonegação de impostos. 

Foi citado algumas vezes como candidato ao cargo de primeiro-ministro ou de presidente da República, mas desde essa época já não participa na vida política nacional.

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