Eleito senador, Kajuru quer frente para abrir 'caixa preta' da CBF

Eleito senador por Goiás com cerca de 1,5 milhão de votos, o radialista Jorge Kajuru, 58, quer usar o seu mandato para renovar a administração esportiva brasileira.

Crítico dos cartolas da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do COB (Comitê Olímpico do Brasil), ele é um dos articuladores de movimento que pretende mudar a estrutura das entidades esportivas nacionais, segundo ele, “um segmento corrompido e intocável até agora”.

Nesta terça-feira (13), o jornalista vai se encontrar com o senador Romário (Podemos-RJ) e a senadora eleita Leila do Vôlei (PSB-DF) para definir os primeiros passos da ofensiva. No dia seguinte, ele se reúne com Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e outros aliados para tratar do assunto.

Romário e Rodrigues foram os integrantes mais ativos da CPI do Futebol, que investigou as contas da CBF após a prisão de José Maria Marin, ex-presidente da entidade, por corrupção na Suíça em 2015.

 

“Não quero ser líder, mas quero procurar gente de bem com a coragem, que não vai recuar lá na frente, para abrir a caixa preta da CBF, do COB e das federações”, afirmou o senador eleito pelo PRP.
Kajuru acredita que o relatório “paralelo” da CPI, assinado por Romário e Rodrigues, servirá de base para o início da “faxina” nas entidades. 

No trabalho de cerca de mil páginas, os três ex-comandantes da CBF (Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e Marin) foram acusados de terem cometidos seis crimes: lavagem de dinheiro, estelionato, crime contra a ordem tributária, crime contra o sistema financeiro nacional, organização criminosa e crime eleitoral. 

Eles já haviam sido denunciados em 2015 pelo FBI por fazer parte de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de competições no Brasil e no exterior.

“Grande parte do trabalho já foi feito aqui e lá fora. Só para dar um exemplo. O Ricardo Teixeira não pode ficar livre neste país, que já prendeu tanto corrupto. O Eduardo Cunha, o Sérgio Cabral estão na cadeia e ele continua por aqui”, afirmou Kajuru. 

“Além do nosso esforço, tem aí o novo governo. Acredito que o presidente eleito [Jair Bolsonaro] também vai querer distância da cartolagem que está aí e vai gostar deste desafio”, completou Kajuru.

Na época da CPI, os aliados da CBF boicotaram o trabalho de Romário e Randolfe e conseguiram aprovar o relatório oficial do senador Romero Jucá (MDB-RR), que não pedia nenhum indiciamento. O relatório foi chamado de “chapa branca” por Romário.

Apesar de usar o relatório paralelo da comissão como base, ele disse que vai investigar a CBF ainda mais a fundo.

O senador eleito citou como “suspeita” a licitação feita pela confederação para vender os direitos de transmissão internacionais e de exploração das placas de publicidade do Brasileiro, vencida pela BR Foot Mídia. Sem experiência na área, a empresa assinou contrato para pagar R$ 550 milhões pelas propriedades. 

Em seguida, o fundo de investimentos Futbol Holdings comprou a empresa brasileira. O fundo fica localizado em um paraíso fiscal nos EUA e não informou os seus sócios. O negócio foi revelado pela Folha. 

“Que transparência é essa?”, indagou. “Deve ter gente conhecida como sócia. Isso cheira a quadrilha. Parece que estão querendo criar uma nova Traffic [empresa acusada de pagar propina aos cartolas do Brasil e do exterior]. Quero me aprofundar nisso”, disse.

Para obter apoio do novo governo, o senador eleito disse que conversará com o economista Paulo Guedes, um dos integrantes do núcleo duro de Bolsonaro, ainda neste mês. 

O paulista de 57 anos também disse que pretende fiscalizar Rogério Caboclo, presidente eleito da CBF. 
Kajuru não acredita que o afilhado político de Del Nero tem condição de fazer a renovação necessária na entidade. Del Nero foi banido pela Fifa por corrupção neste ano, 

“Na CBF o que muda é só a coleira. O cachorro é sempre o mesmo”, disse. “Quando o Ricardo Teixeira saiu e entrou o Marin, a coleira mudou, mas nada aconteceu. Agora é a mesma coisa”, completou.
Ele pretende fazer pressão para a criação de uma liga independente de clubes e mudar o colégio eleitoral da CBF.

Atualmente, as 27 federações são maioria na eleição. Os 40 clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro também votam, mas tem um peso menor no pleito.

“Enquanto o presidente da CBF for eleito pelos presidentes de federações, como acontece hoje, você não pode acreditar que o futebol brasileiro vai mudar e não terá mais corrupção”, disse o jornalista.
Mensalmente, a CBF repassa cerca de R$ 70 mil para as federações estaduais, além de cerca de R$ 20 mil para os presidentes das 27 entidades.

Kajuru disse que a renovação no Senado (de mais de 85% das 54 vagas disputadas nesta eleição) vai ajudar os opositores da CBF a derrotar a bancada da bola, que saiu enfraquecida das urnas.
Relator da CPI do Futebol, o senador Romero Jucá (MDB-RR) foi um dos que perdeu o cargo. Além dele, Zezé Perrela (MDB-MG) e João Alberto Souza (MDB-MA), que defenderam a CBF na CPI, também deixaram o Senado. Os dois nem se candidataram.

“Espero que agora os velhacos da bancada da bola não tenham mais voz. A estrada está limpa”, disse o jornalista.

A Folha entrou em contato com a CBF e com a BR Foot Mídia, mas elas não quiseram comentar as declarações do senador eleito Jorge Kajuru. A reportagem também enviou mensagens para o advogado de Ricardo Teixeira, mas ele não respondeu até a conclusão desta edição.

Já a Futbol Holdings afirmou que a negociação com a BR Foot é sigilosa e que a empresa tornará público o seu quadro societário a partir de 2019, quando o contrato de confidencialidade dos investidores tiver expirado.

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