E o complô virou 'empurrão muito leve'

Assim que terminou o empate entre Brasil e Suíça, as redes sociais explodiram:

“Há (mais) um complô para tentar impedir o Brasil de conquistar o hexa!”

Em minutos, parentes e amigos de profissões que variavam de professor universitário a delegado da Polícia Federal inundaram o meu zap –e milhares de outros– com duas certezas. Não apenas a seleção brasileira fora prejudicada –tanto no lance do gol da Suíça, como no suposto empurrão sofrido por Gabriel Jesus–, como aquilo fora feito de forma intencional.

Lendo as mensagens com mais cuidado, se verificava que o complô era, de fato, vários.

1) O árbitro era mexicano e estava querendo se vingar porque a CBF votara na candidatura do Marrocos para a Copa de 2026, vencida pelo México, ao lado de EUA e Canadá.

2) O presidente da Fifa, Gianni Infantino, havia ligado para a sala do VAR e proibido o uso do equipamento naquele lance, em retaliação contra aquele mesmo voto, proferido pelo Coronel Nunes.

3) A Fifa não quer mais um título do Brasil porque isso faria os torcedores perderem interesse na Copa (essa é bem tradicional, repetida desde a Copa de 1998, antes da conquista do penta).

4) A Copa é na Europa, e os europeus não vão aceitar mais um título de seleções de outro continente. Já basta o de 1958 (essa é a mais antiga, vem pelo menos desde 1974).

Obviamente quem pensa nisso não se lembra que os brasileiros são a segunda maior delegação de torcedores na Rússia (atrás dos EUA). E nem que, se acúmulo de títulos fosse um problemaço para o negócio do futebol, o Real Madrid não seria tri da Liga dos Campeões.

E é igualmente evidente que quem vê um conspiração sempre desmerece a inteligência do conspirador –seria muito mais fácil eliminar o Brasil num jogo de mata-mata, único e com adversário mais forte, do que na fase de grupos e com três adversários inferiores.

E, quando veio o segundo jogo, e o pênalti inicialmente marcado sobre Neymar foi anulado com ajuda do VAR, ninguém mais se lembrava qual era a conspiração que valia, só que havia uma.

Chegou-se a dizer que os árbitros estavam desmoralizados, que o VAR tinha virado o poder supremo. Ué, mas a reclamação no primeiro jogo não era justamente o contrário, de que o árbitro ignorara o VAR e decidira sozinho?

Se você se impresssionou com essa contradição, para os teóricos da conspiração não faz a menor diferença. O importante é manter o foco no inimigo –seja qual for.

Nesta sexta, a Fifa divulgou o áudio da conversa entre o pessoal do VAR e o tal arbitro mexicano no lance do gol suíço. Concluem que o empurrão sobre o zagueiro Miranda foi “muito leve”. Por isso, o árbitro nem se deu ao trabalho de ir àquele reservado com monitor que lembra uma espécie de lavabo ao ar livre.

Era fácil rebater essa gravação. Afinal, o que garante que aquilo não foi fabricado depois, que na verdade é mais uma prova de que estão perseguindo o Brasil?

Mas, como a seleção ganhou bem o terceiro jogo, ninguém nem prestou atenção na explicação. Nem quis rebater. Com a classificação para as oitavas, as conspirações evaporaram.

Até a próxima derrota.

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