Disparada da inflação corrói ganho de investimentos no mês de junho
Os principais investimentos dos brasileiros perderam para a inflação no mês de junho, reflexo da taxa básica de juros em nível historicamente baixo combinada com a disparada de preços após a paralisação dos caminhoneiros.
Os bloqueios nas estradas no final de maio causaram problemas de abastecimento país e fizeram os preços subir.
O IPCA (inflação oficial do país) de junho será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no dia 6 de julho.
A expectativa de economistas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg é de que o feche o mês em alta de 1,26%, o que equivale a quase toda a alta acumulada no ano, de 1,33%.
Mesmo assim, o Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 6,5% ao ano porque considerou que choques nos preços seriam absorvidos nos próximos meses. Na prática, a lentidão na retomada da economia impede que custos mais altos continuem a ser repassados a consumidores.
Mas a combinação de juros baixos e inflação em alta penalizou investimentos em renda fixa. Poupança, CDBs de grandes bancos, fundos simples e até títulos públicos que acompanham a taxa de juros saíram no prejuízo.
No acumulado do ano, parte desses produtos ainda conseguem garantir ganho real quando considerado o rendimento bruto, sem desconto do Imposto de Renda.
"Esse número vai assustar o pequeno investidor, mas a inflação não vai se perpetuar. No próximo mês ela provavelmente vai desabar", diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper e autor do blog De Grão em Grão, hospedado pela Folha.
A recomendação é não alterar de forma significativa os investimentos apenas com base no resultado de junho.
Viriato sugere, porém, que mesmo investidores bastante conservadores tenham algumas aplicações que garantam ganho acima da inflação, como são os títulos públicos Tesouro IPCA+. Esse tipo de investimento paga uma taxa de juros predeterminada e mais a variação da inflação do período.
O pior desempenho no mês foi o da Bolsa, que caiu 5,20%. O Ibovespa, principal índice acionário do país, sofre com a piora nas perspectivas para a economia também na esteira da greve dos caminhoneiros.
Até a metade de maio, boa parte dos economistas previa alta do PIB (Produto Interno Bruto) acima de 2%. Agora, as previsões se situam entre 1% e 2%.
Desde então, a Bolsa sofreu fortes perdas. O cenário negativo arrefeceu nesta semana, que terminou com alta de 3% do Ibovespa, a 72.762 pontos.
Analistas do mercado financeiro esperam que as oscilações bruscas persistam nos próximos meses, pelo menos até que a corrida eleitoral ganhe contornos mais definidos.
Para julho, no entanto, as oscilações podem ser menos bruscas dado o período de férias, que diminui as notícias do campo político. Nesse momento, investidores poderiam centrar atenções nas notícias econômicas, mesmo que nem todas sejam positivas, diz Viriato.
O mesmo deve ocorrer com o dólar, que acumula 4% de alta no mês e 17% no ano. Nesta sexta, o dólar encerrou a R$ 3,8890. Essa disparada favoreceu investimentos em fundos cambiais, que são recomendados a investidores que têm, além de disposição ao risco, algum tipo de despesa em dólar, como viagens ao exterior.