Dinheiro vivo paga a conta do almoço em Brasília

 

15Brasília é uma cidade peculiar.

Não tem esquinas. Os endereços são códigos alfanuméricos. Milhares de “tesourinhas”, alças rodoviárias que levam a milhões de lugares parecidos entre si. Tudo muito confuso e misterioso.

E tem os seres humanos. Em Brasília, você nunca sabe muito bem com quem está falando.

Deve ser por isso que a expressão “você sabe com quem está falando?” é tão popular por lá. O sujeito de bermuda que furou a fila do cinema pode ser caixa da Caixa ou juiz de algum tribunal superior. Na dúvida, ninguém cria treta. O blefe funciona.

Mas esta coluna deveria ser sobre comida. Vamos falar sobre os restaurantes de Brasília, portanto.

Come-se relativamente bem no Distrito Federal. A cidade atrai gente de todos os cantos, o que resulta em uma cena gastronômica bastante variada. Há coisas que não existem em São Paulo. Restaurante cubano. Restaurante indonésio. Pamonha em múltiplos sabores.

Em Brasília, contudo, as pessoas nos restaurantes são muito mais interessantes que a comida. Minha brincadeira favorita é imaginar quem são os estranhos e o que fazem no Cerrado.

Aqueles orientais na mesa do fundo: seriam diplomatas filipinos? O sujeito que almoça sozinho leva jeito de lobista. E aquelas duas mulheres com uma garrafa de vinho? Advogadas, certamente.

Mulheres são franca minoria, principalmente na hora do almoço. Os ternos escuros predominam.

Uma vez, num hotel próximo ao Palácio do Planalto, vi um político paulista dos graúdos. Ele e outros homens de terno estavam sentados ao ar livre, perto da piscina – a despeito do sol fustigante e das numerosas mesas desocupadas no salão climatizado.

Chegou o garçom com a conta. Cada amigo do político pôs um bolo de notas sobre a mesa.

Muito curioso, esse hábito brasiliense. A conta do restaurante, chique ou xexelento, costuma ser paga com dinheiro vivo. Em cash. Eu vi o padrão se repetir muitas vezes nas mesas que espionei. Será que essas pessoas não sabem que o cartão é mais prático e mais seguro?

É o segundo maior mistério de Brasília. Só perde para este: onde diabos fica o caixa eletrônico?

 

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