Descubra qual decisão focar para elevar o retorno de seu portfólio

A maioria dos investidores, quando deseja elevar a rentabilidade de sua carteira, despende tempo e energia exatamente nos dois fatores que menos justificam seu desempenho de longo prazo, e elevam o risco da carteira acima do que deveriam. Eles são atraídos por expectativas irreais e desconhecem em que seu esforço produziria mais resultados.

Em 1986, Brinson, Hood e Beebower divulgaram uma pesquisa respondendo à pergunta: qual decisão de investimento provoca maior impacto na variabilidade do retorno dos investimentos de fundos de pensão? Este estudo se tornou referência sobre o assunto nas últimas três décadas.

O retorno de uma carteira pode ser atribuído principalmente a três fatores: alocação estratégica, alocação tática e seleção de ativos. O primeiro representa a distribuição alvo entre as classes de ativos – renda fixa, ações, fundos multimercados, imóveis e outros – que atende aos objetivos de retorno e risco do investidor.

A alocação tática são os desvios que o investidor faz à alocação estratégica. Ela está relacionada ao chamado market timing, ou seja, a habilidade de antecipar os movimentos do mercado e alterar temporariamente o balanceamento de longo prazo para aproveitar alguma oportunidade que tenha surgido.

O terceiro fator, que explica o retorno do portfólio, está representado pelo ganho proveniente da escolha certa dos ativos dentro das classes de ativos mencionadas acima. Por exemplo, suponha que sua alocação estratégica tenha sido de vinte por cento em bolsa. A seleção de ativos retrata os resultados adicionais na escolha das ações para compor a participação em relação ao Ibovespa.

O estudo inicial de Brinson et al (1986) mostrou que 93,6% da variabilidade dos retornos é explicada pela alocação estratégica, 4,2% pela seleção dos ativos e o restante pela alocação tática. Resultados similares a estes foram corroborados pelos mesmos autores em uma atualização realizada em 1991.

Das três decisões, em quais você imagina que os investidores se preocupam mais quando pensam em seus investimentos?

Mais recentemente, em 2005, a equipe de serviços a clientes private do banco Wells Fargo expandiu a pesquisa de Brinson et al (1986). O Wells Fargo é o segundo maior banco do mundo em valor de mercado (USD$ 226 bilhões) e o quarto maior nos EUA quando considerado o valor dos ativos (USD$ 1,9 trilhões).

Hoernemann, Junkans e Zarate, pesquisadores do Wells Fargo, realizaram uma pesquisa mais completa tanto em relação ao período dos dados utilizados, quanto em relação as possibilidades de diversificação nos ativos. Eles encontraram que, em média, 78% da variabilidade dos retornos é explicada pela alocação estratégica, 10% pela seleção dos ativos e 6% pela alocação tática.

Portanto, novamente sustentando a importância da alocação estratégica como principal decisão para explicar a variabilidade dos retornos. A tabela abaixo resume a proporção da variabilidade dos retornos que a alocação estratégica explica.

percentual-estrategia.jpgProporção da variabilidade dos retornos de longo prazo que é explicada pela decisão de alocação estratégica.

Os investidores perdem muito tempo buscando em textos e vídeos, na internet, qual ação deve apresentar melhor desempenho e se a bolsa vai subir ou cair no curtíssimo prazo. No entanto, isso, em média, só representa 16% da variabilidade de seus retornos de longo prazo.

Sem dúvida, a seleção dos ativos e tentar antecipar os movimentos do mercado – alocação tática – são importantes decisões no processo de investimento e 16% não é um número desprezível. Entretanto, para a rentabilidade no longo prazo, muito mais atenção deveria ser destinada à primeira decisão, ou seja, para a alocação estratégica.

 

 

Michael Viriato é professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do Investidor.

 

Referências:

Brinson, Gary P., L. Randolph Hood e Gilbert L. Beebower. “Determinants of Portfolio Performance.” Financial Analysts Journal, Vol. 42, No. 4 (1986), pp. 39-48.

Brinson, Gary P., Brian D. Singer e Gilbert L. Beebower. “Determinants of Performance II: An Update.” Financial Analysts Journal, Vol. 47, No. 3 (1991), pp. 40-48.

Ibbotson, Roger G. e Paul D. Kaplan. “Does Asset Allocation Policy Explain 40, 90, or 100 Percent of Performance?” Financial Analysts Journal, Vol. 56, No. 1 (2000), pp. 26-34.

Hoernemann, Jeffrey T., Junkans, Dean A. e Zarate, Carmen M., “Strategic Asset Allocation and Other Determinants of Portfolio Returns”, The Journal of Private Wealth Management, (2005) 26-38.

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