Cuca reestreia no São Paulo, onde plantou mas não colheu frutos

Ele foi contratado com o perfil de melhor treinador de uma nova safra. Mas no pacote o clube trouxe também um técnico temperamental, desconfiado e que teve seu trabalho no Morumbi marcado por problemas de relacionamento pontuais no elenco.

Assim pode ser classificada a primeira passagem de Cuca no São Paulo, em 2004, por pessoas que conviveram com o treinador naquele período.

Neste domingo (7), ele inicia oficialmente sua segunda passagem pelo clube, contra o Palmeiras, pelo jogo de volta das semifinais do Paulista.

Como as equipes empataram em 0 a 0 no Morumbi, quem vencer avança à final. Novo empate leva a decisão para a disputa de pênaltis.

A equipe tricolor terá os desfalques de Hernanes e Pablo. Ambos se recuperam de problemas musculares e não terão condições de participar do clássico.

Em 2004, Cuca chegou ao Morumbi avalizado pelo trabalho feito no segundo turno do Brasileiro do ano anterior, à frente do Goiás. Ele pegou a equipe na zona do rebaixamento, emendou sequência invicta de 16 partidas e a levou à nona posição.

Na época, a diretoria queria um treinador da nova geração, e Cuca, com 40 anos, estava despontando. Antes dele, Oswaldo de Oliveira, 54, e o chileno Roberto Rojas, 47, tiveram a missão de comandar o time principal.

Sob o seu comando, o time do Morumbi quase chegou à final da Libertadores de 2004, sendo eliminado no último minuto de jogo da volta das semifinais pelo Once Caldas, na Colômbia. Em 51 partidas, ele obteve um aproveitamento de 64%, com 30 vitórias, 8 empates e 13 derrotas.

Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do clube na época, disse que a formação do time que no ano seguinte venceria Libertadores e Mundial teve vários mentores. “Ali teve dedo do Milton Cruz [integrante da comissão técnica permanente], do Juvenal [Juvêncio, diretor de futebol] e do Cuca também.”

Na montagem do time que fez história em 2005, Danilo, Fabão, Grafite e Cicinho chegaram a pedido de Cuca. Josué e Mineiro vieram quando o treinador já era Emerson Leão, mas a dupla de volantes também constava na lista de indicações de Cuca.

Seu temperamento explosivo e a insegurança ao lidar com alguns problemas internos, porém, acabaram causando desgaste com a diretoria.

“Ele explodia, mas tinha a sensatez de voltar atrás. Era muito desconfiado e inseguro, talvez por ser um treinador novo. Mas era uma pessoa decente”, afirmou Cunha.

O ano de 2004 foi de dificuldades, já que a torcida se ressentia da falta de títulos importantes. A pressão acabou dificultando o seu trabalho.

Segundo uma pessoa ligada ao futebol do clube nesse período, Cuca sempre teve personalidade forte e assumia a tomada de decisões. Por isso acumulou rusgas com atletas.

Um exemplo foi uma áspera discussão entre Rogério Ceni e o preparador físico Omar Feitosa durante um rachão. O clima esquentou, Cuca precisou intervir e acabou batendo de frente com o ex-goleiro. A partir daí, o clima começou a ficar desfavorável para ele.

Os atrasos de Diego Tardelli, 18, uma joia que despontava no Morumbi, foi outro ponto de discórdia. Era comum ver o atacante dando voltas em torno do campo enquanto o grupo treinava. Era a punição que Cuca impunha ao atleta. A diretoria queria que o técnico fosse mais permissivo e dialogasse com o jovem.

A estreita relação de Cuca com a cúpula também criou animosidades mesmo quando ele já estava distante do Morumbi. Em 2009, ele teria se oferecido para trabalhar no clube, irritando o treinador Muricy Ramalho. Tanto o dirigente Juvenal Juvêncio como o próprio Cuca vieram a público desmentir o fato, mas o mal estar já estava criado.

Quem conviveu com ele na primeira passagem pelo São Paulo conta que afagos aos jogadores também eram comuns. “Ele dava bola, camisa, chuteira. Era uma maneira que tinha de incentivar a gente”, diz o ex-lateral Cicinho.

Campeão da Libertadores e do Mundial do ano seguinte, Cicinho lembrou das cobranças do treinador e de sua virtude em extrair, de cada atleta, o que ele tinha de melhor.

“Ele não deixava a fama subir na nossa cabeça. Deixava todo mundo sempre com os pés no chão. Jogou bem? Tem que continuar treinando para manter o nível de atuação.”

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