Crianças deixam de lado chatice adulta e fazem uma inventiva releitura de Hamlet

A multiplicidade de interpretações para “Hamlet”, de Shakespeare, é o disparador de “Peça para Adultos Feita por Crianças”. A concepção é de Elisa Ohtake, que dirige e assina a dramaturgia com o elenco formado por crianças. 

Partindo de esquemas infantis da compreensão de mundo, o espetáculo se debruça sobre os conceitos da tragédia shakespeariana.

A assinatura de Ohtake, com inventivas composições cênicas e carpintaria da dramaturgia, é evidente, mas “Peça para Adultos” se potencializa na presença singular de cada uma das crianças. De caráter performativo, a encenação explora o seu processo. As aproximações a “Hamlet” realizadas pelas crianças, partindo do entendimento de cada uma sobre a obra, demonstram a seriedade de seus olhares.

No jogo cênico, o elenco opera ora como provocador, ora como espelho, numa inusitada identificação com o público. É na aceitação das particularidades do universo infantil que “Peça para Adultos” ganha significado. A radicalidade de Ohtake se encontra com a seriedade da brincadeira; é nessa tensão que se dá a possibilidade de refletir acerca do que é a humanidade.

Seja a partir da invenção de palavras ou na lida com conceitos existentes, as crianças recusam o antropocentrismo e a “chatice” de ser adulto. Elas almejam uma existência mais divertida, coletiva; uma transumanidade, integrada ao ambiente que nos cerca.

Ao longo do espetáculo, o jovem elenco segue experimentando novas formas de existir e se relacionar. Criando símbolos próprios, buscam a todo momento reinventar as linguagens e a comunicação.

Na participação especial de Paulo Cesar Pereio, ao final, a distância entre infância e velhice parece ao mesmo tempo pequena e enorme. É no estabelecimento da distinção entre os esquemas simbólicos de lidar com o mundo que se abrem as possibilidades para novos meios de existir.

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