Com ondas de 8 metros, passageiros narram espera por resgate em navio na Noruega

Pelas grandes janelas panorâmicas nas laterais do Viking Sky, os passageiros viram na tarde de sábado (23) ondas cinzentas espumantes e o horizonte se inclinar enquanto o enorme navio, carregando 1.373 pessoas, era dominado pelo mar.

Lá fora, uma tempestade nas águas gélidas e espessas ao largo da costa oeste da Noruega tinha cercado o navio de cruzeiro, que ia para o Reino Unido, com ondas de 8 metros e rajadas de vento de 70 quilômetros por hora.

Os motores do navio tinham falhado, deixando-o à deriva na baía de Hustadvika e rumando para o litoral rochoso. Plantas, um piano e móveis deslizavam pelo chão a cada balanço do navio. Painéis caíram do teto, e água gelada entrava pelas janelas quebradas.

"Foi assustador no início", disse à agência Associated Press o passageiro Alexus Sheppard, que postou na internet vídeos feitos no interior da embarcação. "E quando o alarme geral tocou pareceu muito real."

A tripulação baixou uma âncora e emitiu um pedido de socorro. Então começou a espera.

Durante 24 horas, os que estavam a bordo —uma mistura de americanos, britânicos, canadenses, neozelandeses e australianos— suportaram as condições violentas enquanto equipes de resgate trabalhavam para retirar os passageiros um a um. Barcos de resgate menores não seriam uma opção segura devido às ondas extremamente altas, por isso as autoridades norueguesas retiraram individualmente os passageiros do navio com helicópteros.

A agência Reuters relatou que o chefe de polícia Hans Vik, que comanda o Centro Conjunto de Coordenação de Resgates do Sul da Noruega, disse à TV2 que o navio chegou a 100 metros da costa antes que a tripulação conseguisse religar um motor.

"Se ele tivesse encalhado, teríamos enfrentado um grande desastre", disse Vik à TV2.

O passageiro Rodney Horgen, morador de Minnesota (EUA), disse à Associated Press que era um pescador tarimbado e nunca experimentou nada parecido com as condições a bordo do Viking Sky.

Horgen disse que um muro de água de 2 metros arrebentou uma porta e janelas e arrastou os passageiros, incluindo sua mulher, Judie Lemieux, por 10 metros pelo chão.

"Isso foi o limite. Eu disse a mim mesmo: 'Chega'", disse Horgen à Associated Press. "Agarrei minha mulher, mas não consegui segurá-la. E ela foi atirada para o outro lado da sala. Então foi jogada de volta pela onda que retornou."

Enfrentar a força e a temperatura da água —e o que aconteceria com uma pessoa se fosse atirada para fora do barco— foi "muito, muito assustador", disse Horgen. "Ninguém duraria muito tempo."

A viagem era uma espécie de peregrinação para Horgen, que desejava visitar o lar de seus ancestrais.

O cruzeiro deveria passar pelas cidades norueguesas de Narvik, Alta, Tromso, Bodo e Stavanger antes de atracar no porto inglês de Tilbury, no rio Tâmisa, na terça-feira (26).

A passageira Janet Jacob disse à emissora pública norueguesa NRK que foi uma das pessoas em dos primeiros grupos retirados por helicóptero. O vento forte "parecia um furacão", disse ela, que rezou "pela segurança de todos a bordo".

"Senti medo", disse Jacob. "Nunca passei por nada tão assustador."

John Curry, um passageiro americano que estava almoçando quando o navio começou a balançar, disse à NRK que o incidente foi um "caos" e que ele "preferia não pensar a respeito" da viagem de helicóptero do navio até o litoral.

"Não foi agradável", afirmou ele.

O presidente da Viking Cruises, Torstein Hagen, disse à TV2 que os passageiros tiveram "uma experiência um tanto chocante".

"A maioria de nossos passageiros são idosos... imagine como é ficar pendurado daquele cabo", disse Hagen. "Deve ser uma experiência terrível, mas eles parecem ter lidado muito bem com isso."

A Cruz Vermelha da Noruega disse à Reuters que mesmo os que não se feriram fisicamente ficaram "traumatizados pela experiência" e precisaram de cuidados na costa.

A Viking Cruises disse à Reuters em um comunicado que os passageiros estavam hospedados em hotéis locais e que a empresa estava arranjando voos para eles voltarem a seus países de origem.

Amigos e parentes dos passageiros, em pânico, buscaram nas redes sociais informação sobre seus entes queridos. Alguns passageiros, incluindo Sheppard, documentaram toda a missão de resgate, compartilhando fotos, vídeos e observações pelas redes sociais.

Sheppard postou fotos de pessoas dormindo no chão e usando coletes salva-vidas como travesseiros.

Às 10h de domingo (24), três dos quatro motores do navio voltaram a funcionar, e este seguiu para um porto levando 436 passageiros e 458 tripulantes, segundo um comunicado da Viking Ocean Cruises. Ao todo, 479 passageiros foram resgatados por ar e 20 pessoas sofreram ferimentos e foram tratadas em hospitais na Noruega.

Enquanto o navio rumava para Molde, em águas mais calmas, Sheppard tuitou um vídeo mostrando dezenas de passageiros que mexiam nos coletes salva-vidas cor-de-laranja.

"As pessoas estão tão entediadas que resolveram reembalar os coletes", explicou ele.

No domingo à tarde, o navio atracou em Molde.

Hagen disse ao jornal norueguês "VG" que o resgate do Viking Sky foi um dos eventos mais difíceis de que ele já participou.

"Tivemos muita sorte", disse.

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