Com ajuda de profissionais americanos, Netflix acelera produção no Brasil

A Netflix reuniu nesta semana em São Paulo mais de 50 jornalistas para dar detalhes sobre o lançamento de quatro séries brasileiras neste primeiro semestre. "Um momento histórico", nas palavras de Maria Ângela de Jesus, diretora de produções originais nacionais da empresa de streaming.

O drama "Coisa Mais Linda", ambientado no Rio de Janeiro no final dos anos 1950, ao som de muita bossa nova, estreia na próxima sexta-feira (22). Na sequência, virão a segunda temporada da comédia "Samantha", a terceira temporada do drama futurista "3%" e o mistério sobrenatural "O Escolhido".

A primeira coisa que chamou a atenção no evento, realizado em um hotel de luxo recém-inaugurado, foi saber que existem mais de 50 profissionais escrevendo ou falando sobre séries em jornais, sites, blogs e vlogs no Brasil. A mídia pode estar em crise, mas a indústria do entretenimento segue investindo firme em promoção.

"Coisa Mais Linda" é a primeira série brasileira da Netflix cujo crédito principal, de criador, é dividido entre um brasileiro (o produtor Giuliano Cedroni) e uma americana (a roteirista Heather Roth).

"Tem um trabalho de estruturação de roteiros", explicou Maria Ângela. "Eles fazem isso há muito mais tempo do que a gente. Foi uma contribuição muito rica. Foi uma primeira experiência que fizemos, que funcionou superbem", acrescentou.

Uma segunda experiência dessa natureza deve chegar ao serviço em 2020. Será a série de terror "Spectros", criada, escrita e dirigida pelo americano Douglas Petrie (de "Buffy, a Caça-Vampiros"), com elenco brasileiro e realização de uma produtora de São Paulo.

Não à toa, estava presente no evento da Netflix em São Paulo a americana Chris Sanagustin, diretora de conteúdo internacional original da empresa, a quem Maria Ângela de Jesus se reporta. A executiva conta, nos Estados Unidos, com duas produtoras dedicadas à criação das séries brasileiras.

Esta aproximação de brasileiros com americanos reforça a ambição da empresa de imprimir um padrão "netflixiano" de qualidade às suas produções. Isso significa séries com cor local, mas produção não mambembe, e apelo para diferentes mercados.

Como diz Maria Ângela de Jesus, o seu objetivo principal é produzir séries com potencial para viajar. Segundo a executiva, a primeira temporada de "3%" teve 50% de sua audiência registrada fora do Brasil.

"Viajar é algo que nós ambicionamos, que nós queremos, que é importante para nossas histórias, no sentido de levar o Brasil para o mundo. É o lado bonito do nosso trabalho. Levar nossa cultura, nossas histórias, nossa paisagem para o mundo", diz ela.

Mais que isso, é uma meta de negócios. Presente em 190 países, disponível em 27 línguas e com 139 milhões de assinantes (mais da metade fora dos Estados Unidos), a Netflix entende que a expansão global é o caminho para a consolidação da empresa.

Em novembro de 2017, Ted Sarandos, o principal executivo na área de conteúdo, reuniu em São Paulo os maiores produtores independentes do país e anunciou a intenção de produzir 20 séries por ano no Brasil.

"Não estamos tão longe, se consideramos que quatro vão ser lançadas no primeiro semestre e cinco no segundo", diz a diretora local. "Acho que o mercado brasileiro oferece condições."

A empresa pode chegar a dez séries neste ano. Além das quatro programadas, estão previstas "Cidades Invisíveis", de Carlos Saldanha, "Ninguém Tá Olhando", de Daniel Rezende, "Onisciente", de Pedro Aguilera, "Irmandade", de Pedro Morelli, e mais uma não anunciada.

A segunda temporada de "O Mecanismo" também pode estrear neste ano.

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