Caso Eduardo é janela para sobrevivente do Congresso num governo Bolsonaro

O lamentável episódio do vídeo em que Eduardo Bolsonaro sugeriu o fechamento do Supremo Tribunal Federal abriu uma janela de oportunidade para os sobreviventes do Congresso encontrarem seu lugar na nova e caótica ordem que se anuncia com a provável vitória na eleição presidencial de Jair, o pai do deputado mais votado da história.

No melhor estilo Bolsonaro, o presidenciável foi modulando seu discurso após o desastre protagonizado pelo filho. Primeiro disse que estava fora de contexto (o PT fez escola), depois que advertira “o garoto” (34 anos...) e, por fim, mandou uma contrita carta se desculpando à corte.

É padrão, aplicado também ao virulento discurso para sua militância no domingo (21), quando ameaçou “os vermelhos” de prisão e exílio, e a Folha por suas reportagens sobre o caso do WhatsApp. Depois, nunca é bem assim —exceto no caso do jornal, mostrando outro aspecto de similitude entre ele e o petismo que combate.

Para usar uma figura à qual já recorri, apocalípticos dirão que estamos assistindo Hitler jurar lealdade ao governo de Hindenburg antes do inevitável, e integrados dirão que são só brincadeiras grosseiras a serem escusadas. A realidade provavelmente está perdida no meio-termo e terá de ser escrutinada com redobrada atenção, mas vamos em frente.

Para egressos do centrão e do PSDB em processo de bolsonarização avançado, o argumento é de que a verborragia de Eduardo é o prenúncio de um pesadelo contratado na interlocução entre o Planalto de Bolsonaro e o Congresso. Logo, a oferta de seus serviços está na praça.

Um depositário da confiança do pessoal é Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da Câmara que procura discretamente manter a cadeira. Como? Apresentando-se como fiador da exequibilidade dos planos de Bolsonaro, dado que se tem uma coisa que sabe fazer é costurar consensos nas planícies daquele território chamado Grande Baixo Clero.

Contra os planos, a voluntarista bancada eleita pelo PSL, que de tão animada já está projetando vitórias municipais hegemônicas em 2020. Aqui vale uma digressão: tudo se baseia na vontade (não cairei em tentação citando Leni Riefenstahl), palavra que permeia as conversas no partido. Preparo e conhecimento da máquina pública parecem dispensáveis se “gente do bem” (aspas, claro) estiver em ação.

Vitaminado por votações expressivas, como a de Eduardo (1,8 milhão de votos) e de sua colega de São Paulo Joice Hasselmann (1 milhão), é um grupo que quer chegar dando cartas e ignorar que, da porta para dentro, cada eleito vale um voto. O problema é a falta de software para rodar o jogo, e é aí que os sobreviventes do campo conservador entram.

Esta é uma briga que já começou, e tudo deverá girar em torno das opções de Bolsonaro, caso eleito como se prediz. Parte da tática passa por apresentar logo de cara uma agenda que agrade ao eleitorado que promoveu a turma ao poder. Medidas na área de segurança pública e nos costumes/educação serão facilmente aprovadas por esse Congresso, independentemente dos cargos que um presidente Bolsonaro promete não distribuir —enquanto for popular, ao menos.

Só que a saúva é outra: a economia. Logo, como a mirabolâncias de Paulo Guedes não são exequíveis no atacado, a opção é um varejo aceitável para os primeiros três meses de governo que inclua algo de Previdência e o pacote de concessões deixado por Temer com uma nova roupagem. É uma tendência, mas se o modelo for FHC-1 e Lula-1, é factível pensar em algo mais ambicioso.

O segredo será passar pílulas amargas misturadas a um bolo mais palatável para os conservadores. Entra na conta a reação à esquerda aos aspectos certamente mais extremos que surgirão, o que irá garantir polêmica e debate público, tirando atenção do resto.

Não é um acidente Maia sugerir colocar o fim do Estatuto do Desarmamento para votar já, nem será uma coincidência a ideia de votar algum pedaço da reforma previdenciária de Temer (idade mínima?) antes do fim do ano. Salvo algo inescrutável, Bolsonaro está, como disse, com a mão na faixa. O resto do mundo político, por sua vez, já o trata como usuário do adereço.

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