Carta a um novo ministro da Educação

Foi publicado, recentemente, um livro organizado por Fernando Reimers, intitulado “Cartas para um Novo Ministro da Educação”, com textos de líderes educacionais de diferentes países, relatando a um novo mandatário suas experiências na gestão da política educacional, seus aprendizados e eventuais dificuldades encontradas.

Escrevi um dos capítulos e pude mostrar como, em educação, é fundamental combinar conhecimentos e experiências de três áreas, ao assumir a liderança da pasta: gestão de políticas públicas, aprendizagem e operação política. 

Este último atributo é particularmente relevante, pois, num contexto democrático, nenhuma transformação pode ocorrer de forma sustentável sem ouvir os principais atores envolvidos, como professores, alunos e famílias.

Quando recebi a notícia da indicação de Abraham Weintraub para o ministério, pensei no que lhe escreveria numa eventual carta. 

Certamente me lembraria dos atributos que podem ser úteis a um titular da pasta, mas que ele não precisaria necessariamente personificar. Bastaria que escolhesse uma equipe técnica que detenha competências de gestão pública e conhecimentos sólidos de educação, tanto básica quanto superior, e que lhes desse espaço para atuar, sob sua liderança, de forma harmônica e integrada. 

Pelas lições aprendidas na gestão anterior, diria também que urge fugir de conflitos internos e evitar dispersão de esforços em pautas secundárias. 

Senhor ministro, diria eu, temos algumas urgências: as crianças e jovens estão, em sua maioria, na escola, mas não estão aprendendo. 

Alguns instrumentos, no entanto, foram preparados para ajudar nessa empreitada: foi elaborada uma Base Nacional Comum Curricular, bastante sintonizada com o que fazem os países com os melhores sistemas educacionais. Agora precisamos garantir que ela se traduza em bons currículos estaduais, municipais e escolares.

Temos o Inep, continuaria eu, que tem estatísticas educacionais confiáveis e capacidade de avaliar aprendizagem e desempenho das redes. Precisamos agora ensinar gestores e educadores a usar os dados para melhorar o sistema. 

Chegamos a elaborar uma Base Nacional Docente, para melhorar a formação inicial de professores, hoje distante das necessidades da sala de aula, que foi remetida ao Conselho Nacional de Educação e depois retirada para posterior análise do MEC, sem que isso tenha avançado. Urge conclui-la. 

Precisamos aumentar a atratividade da carreira de professor e garantir-lhe condições para se preparar para desafios. 

Ainda há muito o que fazer, ministro, porém basta determinação, boa técnica e acabar com diversionismos.

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