Carnaval em Vassouras

Vassouras, cidade do Vale do Paraíba fluminense, a 120 quilômetros do Rio de Janeiro e a 390 quilômetros de São Paulo, foi a capital econômica do país entre 1840 e 1880, período que cobre aproximadamente todo o Segundo Império.

Na década de 1870, o Vale chegou a responder por 75% do café consumido no mundo.

Além de a região abrigar inúmeras fazendas de café, com suas belíssimas sedes, vários barões do café tinham mansões na cidade. Chegou a ter 300 casas, inúmeras imponentes, e uma vida cultural bastante sofisticada para a realidade do país à época.

Ficamos em uma pousada simples, mas confortável, a uma quadra da praça principal com a bela matriz e as belíssimas 13 figueiras plantadas em linha nos costados da matriz. A visão das figueiras é suficiente para justificar a viagem.

 

 

 

Aparentemente, um processo de tombamento desastrado acabou por destruir os casarões. Ficou tão caro manter as casas —nada podia ser alterado— que o casario veio literalmente abaixo. Hoje, com exceção de alguns casarões ao redor da praça da matriz, nada restou do belo conjunto urbano documentado em foto de 1859 de Victor Frond.

Restaram, no entanto, várias sedes de fazenda, que, a partir da década de 1990, passaram a ser restauradas e abertas à visitação.

Visitamos seis. Como os guias enfatizam, cada casa é singular. Havia o desejo de distinção entre os barões.

Há algum padrão que se repete (mas mesmo nesse caso há exceções), como construir a casa em aclive e empregar o barranco como apoio para o piso do andar superior. Abaixo do andar superior há um porão, cujo pé-direito aumenta conforme caminhamos em direção à frente da casa, devido ao aclive. Era empregado como senzala doméstica e/ou armazenamento do café para futura comercialização. Nesse caso, chamava-se tulha.

Fomos bem recebidos nas fazendas. Em geral, o proprietário ou um guia faz uma apresentação sobre a história da fazenda e outra apresentação sobre a história da sua recuperação. No fim, um café com bolo nos aguardava.

O século 19 ressurge no meio dos casarões e do mobiliário. Jantares com a família real para talvez convencer a atrasar a Abolição? O isolamento e a insegurança. Os quartos sem janelas, alcovas, em que os comerciantes que precisassem pernoitar dormiam trancados, supervisionados por fora por um escravizado que fazia a segurança.

Nas apresentações, com exceções, achamos, eu e Heloisa, minha mulher, que a presença dos escravizados não teve a ênfase devida.

A decadência do Vale foi rápida. A péssima topografia, mares de morros e a agricultura predatória sem curvas de nível esgotaram rapidamente o solo. Restou uma decaída bacia leiteira.

Voltamos passando pela cidade paulista de Bananal, que fica quase na divisa com o estado do Rio e que também fez parte do ciclo do café do Vale. Bananal está muito bem conservada.

Para quem se interessar pelo passeio, recomendo o clássico de Stanley Stein, “Vassouras”, e, sobre a fazenda Resgate de Bananal, o volume “Resgate, uma Janela para o Oitocentos”, de diversos historiadores.

Na volta de Bananal, passando por Areias, pela rodovia dos Tropeiros (SP-68), avistamos à esquerda a serra da Bocaina. Emocionava-me pensar que o rio Paraitinga, que conjuntamente com o Paraibuna forma o Paraíba do Sul, nasce na serra, e não muito distante de onde, após muito correr para oeste e após se voltar para leste, já na calha do Vale, passa, na altura da cidade de Queluz, o belo Paraíba do Sul.

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