Bolsonaro vê democracia 'como mero incômodo', diz criador da Lei de Godwin

O advogado Mike Godwin ficou famoso no mundo todo após ter criado, em 1990, a chamada Lei de Godwin, uma crítica a quem banaliza analogias nazistas ao encerrar discussões dizendo que o outro lado é Adolf Hitler, ponto final. 

À Folha o texano diz que sua máxima "certamente se aplica a Jair Bolsonaro, porque ele prova que é verdade. Qualquer discussão sobre ele cedo ou tarde leva a comparações com Hitler e o nazismo".

E, nesse caso, é aceitável tachá-lo assim, segundo o advogado, que no Twitter havia dito na véspera, a terça-feira (16), que é ok suspender suas próprias palavras ao falar do presidenciável do PSL.

Ao adágio, pois: "Conforme uma discussão online se prolonga, a probabilidade de uma comparação envolvendo nazistas ou Hitler se aproxima de um [é garantida]".

"Parte por sua antipatia em relação à democracia, e parte por abraçar a ideia de que a polícia deve matar mais pessoas e ser reconhecida por isso", diz.

Não seria leviano, portanto, traçar o paralelo entre o bolsonarismo e o nazismo, segundo Godwin.

"Espero que os brasileiros escolham um caminho de maior cooperação, em vez de maior violência. Parece certo, dado o que vemos acontecer em outras partes do mundo, notadamente na Filipinas e em Myanmar, que qualquer sanção de violência ou ódio contra as minorias gera mais violência, e jamais mais democracia e prosperidade."

Ele conta que trabalhou com colegas brasileiros no passado, em leis de internet compartilhada e metas políticas para a nova realidade conectada, incluindo a aprovação do verde-amarelo Marco Civil na Internet, em 2014.

Esteve em João Pessoa (PB) em 2015 para um fórum da área. "Conheci muitos ativistas brasileiros ao longo da minha carreira em formular leis e políticas para a internet, e fiquei impressionado com seus compromissos quanto aos direitos individuais, ao pluralismo, à democracia". Daí sua afeição ao país.

Ele respondeu "sim!" ao ser provocado no Twitter por um seguidor: "Só pra ficar claro, é ok chamar Bolsonaro de nazi?". Antes, tinha tuitado a hashtag que simboliza a aversão ao capitão reformado, #EleNão.

Godwin já havia revogado a própria "lei" ao criticar o americano Donald Trump. Escreveu para o jornal Los Angeles Times artigo em que critica o presidente e diz que a máxima criada por ele não proíbe o paralelo com Hitler. 

Godwin afirma ter "nada além de simpatia" por "cidadãos que se sentem traídos" pelo catatau de corrupção no Brasil, fora os solavancos econômicos. "Mas minha preocupação é que Bolsonaro meio que tenha pavimentado um caminho para uma traição ainda maior."

"Parte da minha inquietação é pelos comentários sobre LGBTQs e mulheres, claro", diz. "Também me preocupo, contudo, com sua visão cínica da democracia como um mero incômodo que deve ser evitado ou possivelmente eliminado. Acredito que ele esteja jogando com a infelicidade de muitos brasileiros." 

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