Bolsonaro busca direita light, mas ainda luta para não ser 'PT ao contrário'

Jair Bolsonaro (PSL) e seus aliados sabem que o capitão reformado não ganha a eleição com seus 20% de apoiadores fiéis. O presidenciável larga na corrida ao Planalto em busca de uma "direita light" para expandir seu eleitorado, mas permanece amarrado a velhos hábitos.

Na convenção que lançou Bolsonaro neste domingo (22), a espinha dorsal foi o mesmo discurso que o projetou para a fama. Ataques ao comunismo, afagos aos militares, apelos religiosos e uma defesa genérica da família.

Embora seja aconselhado a adotar moderação, Bolsonaro se deu por satisfeito ao falar para seu público cativo. Antes de discursar, precisou ouvir um diagnóstico sobre o principal risco de sua campanha. A advogada Janaína Paschoal, cotada para vice em sua chapa, disse que o grupo do capitão reformado pode virar "o PT ao contrário".

"Os seguidores do deputado Jair Bolsonaro tem uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado. Pessoas só são aceitas quando pensam exatamente as mesmas coisas. Reflitam se não estamos correndo risco de fazer o PT ao contrário", disse Janaína, uma das autoras do impeachment de Dilma Rousseff.

A advogada se referia a um PT que era considerado radical e perdeu três eleições presidenciais, de 1989 a 1998. O partido só teve êxito quando atravessou o corredor e se aliou ao empresariado. Bolsonaro ensaia moderação ao dizer que prefere unir o povo, "homens e mulheres, homos e héteros", mas busca o território confortável da polarização para se reafirmar.

Disse que a mulher só se realiza quando tem filhos, que criminosos "não são seres humanos", que agricultores que empregam trabalhadores em situação análoga à escravidão são perseguidos, que quilombolas são escravizados pelo governo, que pretende editar um decreto para legalizar 8 milhões de armas de fogo e que não pode interferir na iniciativa privada só porque mulheres ganham salários menores do que os de homens.

No fim de sua entrevista coletiva, confrontado com dados que mostravam o aumento no número de mortes em confronto com policiais durante a intervenção na segurança do Rio, deu uma resposta que levaria boa parte de seus seguidores à celebração: "Mas aumentou muito pouco, né?".

O presidenciável repisa o caminho que o levou à liderança de parte das pesquisas eleitorais, ainda que seus aliados com mais experiência política peçam que ele faça algum esforço para ampliar seu espectro.
Poucas pessoas simbolizam o antipetismo e o antiesquerdismo como Janaína Paschoal, mas a advogada não concorda em tudo com Bolsonaro. Assim como ela, muitos eleitores seguem valores de direita, mas torcem o nariz para posições duras do presidenciável.

Sem dialogar com um grupo mais amplo, Bolsonaro pode ter dificuldades para deslanchar na campanha e, principalmente, chegar ao segundo turno como um candidato competitivo.

O presidenciável tenta sustentar seu discurso e seduzir a direita de maneira geral ao evocar o fantasma do comunismo. Diz que o caos político e a corrupção hoje são piores do que às vésperas do golpe de 1964, e que os militares "são o último obstáculo para o socialismo". "Esse Brasil é nosso", insiste.

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