Assange não aceita pedido de extradição dos EUA e passa primeira noite em prisão de Londres

Julian Assange passou sua primeira noite detido em Londres, na penitenciária de Belmarsh, no sudeste da cidade. O fundador do WikiLeaks foi preso na quinta (11), na sede da embaixada equatoriana no Reino Unido.

Belmarsh é uma prisão de segurança máxima para presos do sexo masculino, com capacidade para 910 prisioneiros, incluindo detentos que despertam forte interesse público e estrangeiros. 

O australiano enfrenta a partir desta sexta-feira (12) uma longa batalha judicial que vai definir uma possível extradição dele para os Estados Unidos, depois de ficar quase sete anos refugiado na Embaixada do Equador no Reino Unido. O trâmite judicial pode durar entre um ano e meio e dois anos. 

As autoridades americanas consideram o hacker de 47 anos uma ameaça à segurança do país em razão dos vazamentos de uma série de documentos confidenciais pelo site WikiLeaks. 

Ele é acusado de ter ajudado a ex-analista de inteligência americana Chelsea Manning a obter a senha para acessar milhares de documentos classificados, incluindo vídeos que mostram ataques do Exército americano a civis no Iraque. Assange então publicou o conteúdo no WikiLeaks.

Após ser preso, Assange foi apresentado a um tribunal de Westminster. "Você aceita o pedido de extradição [americano]?", perguntou o juiz Michael Snow.

Assange respondeu que não. Sua advogada disse que ele vai lutar contra a extradição. O pedido dos EUA será examinado em uma audiência no dia 2 de maio.

Agentes consulares australianos vão solicitar uma visita, segundo a chanceler australiana Marise Payne, que se disse "convencida que vão tratá-lo de maneira justa". 

"O governo britânico deve garantir que um jornalista nunca seja extraditado para os EUA por ter publicado documentos e vídeos (que mostram) assassinatos de cidadãos inocentes", disse o editor do WikiLeaks, Kristin Hrafnsson, que pediu ao governo britânico que negue o pedido de extradição.

"Não há garantia alguma de que uma acusação adicional não será produzida" uma vez que ele estiver em solo americano, acrescentou.

O líder da oposição trabalhista, Jeremy Corbyn, também pediu ao governo conservador de Theresa May que se oponha a esta extradição "por ter exposto evidências das atrocidades no Iraque e no Afeganistão". "No Reino Unido, ninguém está acima da lei", disse May na quinta-feira (11) na Câmara dos Comuns.

 

O vice-presidente dos EUA, Mike Pence, defendeu nesta sexta-feira (12) o que alguns dizem ser uma posição curiosa de Donald Trump em relação à prisão.

A primeira reação de Trump foi desdenhosa, ao declarar apenas aos repórteres: "Não sei nada sobre o WikiLeaks. Não tenho nada a ver com isso".

O comentário despertou curiosidade porque, durante sua campanha presidencial em 2016, Trump inúmeras vezes elogiou e encorajou o site de vazamento de informações confidenciais.

"Eu amo o WikiLeaks", afirmou ele, empolgado, em um comício, depois que a plataforma vazou documentos que prejudicaram bastante sua adversária democrata Hillary Clinton, mesmo sendo do conhecimento público que o WikiLeaks trabalhava em coordenação com a Inteligência russa.

Pence declarou à CNN que Trump simplesmente apoiou a exposição de informações durante a eleição, não a organização WikiLeaks em si.

"Eu acho que o presidente, como vocês e a mídia, sempre acolhe bem as informações", declarou Pence. Mas isso não era de forma alguma um endosso a uma organização que agora entendemos estar envolvida na disseminação de informações classificadas como sigilosas pelos Estados Unidos da América", acrescentou.

Os vizinhos da embaixada equatoriana em Londres estão aliviados. "Meu Deus, o pesadelo acabou, que alívio", exclama Tony Knight, consultor financeiro sexagenário que mora no Chelsea, elegante bairro perto da embaixada.

"Em toda essa área, as pessoas que moram aqui ficavam incomodadas com o que acontecia, houve presença policial, manifestações", disse. "Não foi diariamente, mas a situação durou sete anos."

Segundo Knight, até os preços das moradias caíram. "Alguém me disse que eles tiveram que reduzir sua renda em 30% em razão desse assunto", diz ele, apontando para o imponente edifício de quatro andares, tijolo vermelho e janelas brancas, que abriga à sua esquerda a Embaixada do Equador e à direita, a da Colômbia. Há uma dúzia de apartamentos residenciais no prédio.

Fora isso, dizem os vizinhos, a longa estadia do fundador do WikiLeaks, "não foi realmente um incômodo" segundo um deles: "Era como um vizinho que você nunca vê", acrescenta.

 

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