Artigo anônimo contra Trump divide NYT e abre corrida para revelar autor

No episódio mais recente do folhetim iniciado pelo artigo anônimo no The New York Times em que um funcionário de alto escalão ataca o governo Trump, a repórter Vivian Yee tentou aparentar bom humor ao relatar publicamente o assédio que vem enfrentando em seu telefone no próprio jornal.

Pela ordem, a seção de opinião resolveu publicar na quarta-feira (5) o texto contra Trump, sem consultar a redação; o presidente atacou o articulista “covarde”; sua porta-voz tuitou o número do jornal e falou para ligarem lá, cobrando o nome; e a mesa operadora do NYT passou a transferir as ligações para Vivian.

 

Embora a história tenha traços cômicos, como quase tudo que concerne Trump, é também uma nova amostra de degradação institucional, agora do principal jornal americano.

É questionável a publicação de artigo anônimo com ataque a quem quer que seja. Trata-se, de fato, de um autor covarde.

Os editores da seção de opinião, que é separada da redação, correram para dar entrevistas lembrando que já o fizeram antes, com articulistas ameaçados de países como Síria ou El Salvador —situações obviamente muito diversas.

Sobrou para o editor-executivo Dean Baquet, que não teria sido sequer avisado da publicação do texto, defender a publicação com um argumento mais aceitável, o de que era, afinal de contas, notícia.

Sua justificativa convenceu colunistas de mídia como Margaret Sullivan, do Washington Post e ex-NYT, e Howard Kurtz, da Fox News e ex-CNN, que passaram a defender o texto por ser “newsworthy”, merecedor de publicação como notícia.

Mas também é questionável que o seja. Outro repórter do The New York Times, Michael Schmidt, citou a reação de seu próprio pai para questionar o artigo apócrifo: “A gente já não sabia de tudo isso?”.

Se não é propriamente notícia, o artigo certamente causou sensação. Passou a polarizar o debate político nos Estados Unidos e pelo mundo, no lugar do livro de Bob Woodward, do Washington Post —que diz mais ou menos as mesmas coisas.

Não é de hoje que a seção de opinião do NYT, comandada há dois anos por James Bennet, chama a atenção mais pelo sensacionalismo do que por solidez ou por “ampliar o entendimento do público sobre o que está acontecendo”, como ele afirma, em sua defesa.

O primeiro colunista que contratou, o direitista Bret Stephens, questionou desde logo a mudança no clima, causando sensação em mídia social.

Desde quarta, como ironizou Kurtz, o jornalismo americano está numa corrida para levantar o nome do autor. A começar pelos repórteres do NYT, que não têm por que respeitar o anonimato, pois não se trata de fonte.

Enquanto isso, da Casa Branca em polvorosa, já vieram a público para deixar claro que não escreveram o artigo o secretário de Estado, o vice-presidente e até a primeira-dama, três dos mais citados nas casas de apostas, como MyBookie.

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