'Arata Isozaki é eternamente contemporâneo', escreve Ruy Ohtake

Há 15 anos, estando em Los Angeles, fui conhecer o Moca (Museu de Arte Contemporânea), projetado por Arata Isozaki, que venceu o Pritzker deste ano. O prédio está localizado no centro da cidade, em frente a uma praça, de onde a minha visão foi atraída para dois blocos avermelhados, com a entrada pelo meio.

O impacto foi instigante, pois logo atravessando a pequena entrada abre-se o pátio descoberto. À direita, um bloco revestido de granito em tons de vermelho. E, do lado esquerdo, outro bloco também revestido em granito em tons avermelhados. E o piso de ligação dos blocos com o mesmo material! 

Fiquei olhando por alguns instantes. No primeiro bloco, encontram-se os espaços para as esculturas e o auditório. No segundo, situam-se as várias salas de menor dimensão para outros tipos de exposições. O restante do programa se distribui pelos dois blocos. Uma exceção: o café, localizado na parte inferior do pátio, em granito de cor areia. 

A força dos espaços quadrados é muito perceptível. Na cobertura, predominam pirâmides para iluminação das salas expositivas, tanto iluminação natural como a noturna, em que as lâmpadas correm pela estrutura metálica. 

Uma cobertura semicircular cobre a biblioteca. Esses volumes geométricos na cobertura foram utilizados por Isozaki em vários projetos. Fiquei ainda impressionado com o pátio e, para tanto, medi a área com meus passos: aproximadamente 25 metros.

Em 2001, o arquiteto Arata Isozaki esteve em São Paulo, convidado para participar do concurso da Universidade de São Paulo para a construção do Museu de Arte Contemporânea da USP, num grande terreno na Água Branca, organizado pelo professor Teixeira Coelho. 

Além de Isozaki, foram convidados os arquitetos Bernard Tschumi, Paulo Mendes da Rocha e Eduardo de Almeida. Entretanto, por dificuldades internas, esse concurso não se realizou. Uma pena, pois independente do resultado, a presença desses arquitetos em palestras e debates seria muito bem aproveitada pelos jovens e pelos não tão jovens.

Em Barcelona, objetivando o preparo para os Jogos Olímpicos de 1992, Arata Isozaki foi convidado a projetar o Pavilhão de Esportes em Montjuic. A cobertura metálica com alta tecnologia em função estrutural, além de proteção térmica e acústica, envolveu uma complexa execução. 

O pavilhão pousa sobre a encosta do morro. E o projeto, extremamente “limpo”, tem toda a infraestrutura necessária (acomodações, vestiários e refeitórios para atletas,  área técnica para manutenção, área para funcionários e escritórios: todo esse conjunto está sob a arquibancada). 

Visualmente, a obra é extremamente leve. Assim, Isozaki garantiu um espaço muito bonito e uma sobriedade na relação público e atletas. Arquitetura muito significativa para Barcelona!

A paisagem e a arquitetura de Arata Isozaki: num terreno triangular com variadas situações topográficas, ele projetou o edifício para o Centro de Arte e Tecnologia do Japão, na cidade de Cracóvia, na Polônia. 

Tirando partido da ondulação do terreno, destaco a estética, bonita e leve, da cobertura ao longo do rio, cuja paisagem tem a ver com a ondulação da cobertura, os vidros com elegantes caixilhos, fazendo contraponto às grossas paredes internas revestidas por tijolos. Com esse projeto mostrou toda a versatilidade e conceito de sua arquitetura.

Além dessa notável gama de projetos que vem desenhando há mais de seis décadas, Arata Isozaki tem se destacado em inúmeros textos que refletem seus pensamentos. 

Isso desde seus escritos sobre o Metabolismo, forte movimento de arquitetos japoneses no período entre 1960 a 1980. Ele tangenciou o Metabolismo sem nunca ter participado formalmente do grupo. 

Na ocasião, manteve longa troca de cartas com o arquiteto holandês Rem Koolhaas. Recebeu um interessante texto de considerações do celebrado crítico americano Kenneth Frampton. 

Arata Isozaki aprofundou seus conceitos sobre as cidades, sobre a relação cultural e espiritual entre Oriente e Ocidente. Sem dúvida uma substanciosa formação, tornando-se o eterno contemporâneo. Totalmente merecedor do Pritzker de 2019.

Parabéns, Arata Isozaki!

Omedetô, Isozaki-sam.

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