'Aqui se faz, no futuro se paga', ensina trama espírita da Globo

Termina nesta segunda-feira (1º) “Espelho da Vida”. Foi o quinto folhetim de Elizabeth Jhin na Globo desenvolvido sob inspiração do espiritismo e de crenças esotéricas. Ela é também autora de “Eterna Magia” (2007), “Escrito nas Estrelas” (2010), “Amor Eterno Amor” (2012) e “Além do Tempo” (2015-16).

Jhin segue uma tradição antiga, abraçada por diferentes autores, de Janete Clair (1925-1983), que escreveu “Sétimo Sentido”, a Walcyr Carrasco, autor de “Alma Gêmea” e “Chocolate com Pimenta”, e que teve em Ivani Ribeiro (1922-1995) a sua maior promotora, com “O Profeta” e “A Viagem”, entre outros.

 

A temática já inspirou dezenas de novelas desde que a TV começou a exibir ficção seriada. É praticamente um gênero.

Falar de reencarnação, vidas passadas e déjà-vu se explica, por um lado mais prático, em função das inúmeras possibilidades narrativas que os temas oferecem aos autores. Por outro lado, o que me incomoda nas tramas de Jhin é que a temática serve para proselitismo religioso e conforto espiritual.

Ressalvando que pratica “uma espiritualidade sem rótulo”, ela disse ao pesquisador Nilson Xavier, antes da estreia de “Espelho da Vida”: “Acredito profundamente em reencarnação e escrevo sobre o assunto com muita entrega e respeito”.

Esta sua novela mais recente se passou simultaneamente em dois tempos, nos anos 1930 e nos dias atuais. Tudo de mal que os personagens do passado fizeram teve consequências e reflexos nos tipos que eles reencarnaram no presente. “Aqui se faz, no futuro se paga”, ensinou.

É curioso observar que tramas criadas sob inspiração da doutrina espírita não provocam o mesmo estranhamento que as novelas bíblicas da Record.

Está certo que ninguém produz seis minisséries e cinco novelas de cunho religioso em uma década pensando apenas em Ibope. Mas a Globo abre o flanco a um questionamento semelhante com a insistência em reencarnação e vidas passadas.

Mulheres e homens

Os gêneros e as ambições das séries “Coisa Mais Linda” e “Homens?” são totalmente diferentes. A primeira é um drama de época da Netflix, com produção caprichada, ambientado no Rio de 1959. A segunda é uma comédia leve do Comedy Central, que se passa na mesma cidade, nos dias atuais. 

Além da coincidência geográfica, há um fio interessante prendendo as duas produções. “Coisa Mais Linda” tem quatro protagonistas femininas que enfrentam, cada uma a sua maneira, o machismo da época. “Homens?” obriga quatro protagonistas masculinos que encaram o próprio machismo.

A série da Netflix, de um apuro técnico hipnótico, com bem qualificou Luciana Coelho aqui na Folha, não escapa dos clichês ao apresentar os dramas das quatro personagens, mas se sai bem ao evitar representá-las como super-heroínas, mostrando humanidade, contradições e fraquezas em cada uma.

Já o programa do Comedy Central faz rir, e muito, quando consegue expor a fragilidade dos protagonistas, machões que não se enxergam como tais.

“Os tempos mudaram, eles ainda não”, é o slogan que embala a criação de Fábio Porchat. Em alguns momentos, porém, “Homens?” deixa a comédia de lado para dar lições, o que dá um ar de telecurso à série.

Em todo caso, fica aqui a recomendação de que ambas valem a pena, independentemente dessa “conversa” entre elas.

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