Anexação da Crimeia pela Rússia ajudou a asfixiar economia ucraniana

A anexação da Crimeia amputou uma parte considerável do potencial econômico da Ucrânia, abrindo novas possibilidades para os russos, mestres no uso geopolítico de recursos energéticos.

Desde 2014, a Rússia passou a controlar todos os equipamentos de extração de gás natural existentes na bacia do mar Negro junto à Crimeia, que produziam 80% da vazão ucraniana. O problema é que, com sanções ocidentais, a venda desse produto é basicamente vetada.

Segundo estimativas do governo em Kiev, há no local entre 100 e 500 bilhões de metros cúbicos de gás.

No limite, não chega à produção anual da Rússia (700 bilhões de metros cúbicos), maior exportadora do produto no mundo, mas está longe de ser desprezível, ainda mais para uma economia em frangalhos como a da Ucrânia.

O governo do presidente  Petro Porochenko, que busca a reeleição no próximo dia 31 enfrentando dificuldades, experimentou uma queda de 17% no seu PIB depois da anexação e do início da guerra civil no leste do país.

Com dois empréstimos do Fundo Monetário Internacional, vai se mantendo, mas as perspectivas são complicadas: o PIB se arrasta e a inflação de alimentos e serviços disparou até 115% em 2018.

Para piorar, os US$ 3 bilhões  (R$ 11,4 bilhões) anuais que o país aufere cobrando pela passagem de gás russo para a Europa podem sumir em 2020, quando deve entrar em operação um novo gasoduto alternativo, o Nord Stream 2. O valor equivale a quase 3% do PIB (Produto Interno Bruto) ucraniano.

A Crimeia e Sebastopol, que também tinha status separado dentro da Ucrânia como possui agora sob os russos, representavam 4% do PIB ucraniano.

O conflito afetou também a Rússia. Embora a mídia ocidental tenda a listar as sanções como algo próximo de matar o regime de Vladimir Putin, a verdade é que elas forçaram um início de diversificação na economia russa.

O problema maior que atingiu a Rússia na sequência da guerra foi a queda brutal no preço do barril de petróleo, que saiu de mais de US$ 100  (R$ 382) para quase US$ 30 (R$ 114). Isso desestabilizou o orçamento russo, que recebe 40% dos royalties de exportação do óleo, e ajudou a jogar o país em recessão de 2015 a 2016.

“As evidências são muito fracas de que o PIB caiu por causa das sanções”, afirma estudo assinado por Konstantin Kholodin e Aleksei Netsuajev na edição atual do insuspeito “Baltic Journal of Economics”, editado em Riga (Letônia).

Para a península em si, a exploração de gás poderia compensar as perdas decorrentes da paralisação da indústria pesqueira, que teve baixa na competitividade nos anos pós-anexação.

Isso por um dilema ovo e galinha: como só podiam vender para os russos, os pescadores crimeus tinham de usar o custoso sistema de barcaças de transportes no estreito de Kerch para vender o mesmo peixe que os novos conterrâneos pescavam no mar Negro.

A abertura da ponte sobre o estreito, no ano passado, promete mitigar a situação, mas o fato é que a maioria dos donos de frotas pesqueiras eram ucranianos, então a recuperação do setor parece improvável.

As dificuldades também atingem os famosos vinhedos da Crimeia, notáveis pelo vinho adocicado desde os tempos dos gregos.

No ocaso da União Soviética, a percepção de que os vinhos eram rústicos demais levou o governo de Moscou a podar os vinhedos e tentar plantar varietais mais sofisticados —o que deu certo, dentro do possível, na vizinha Krasnodar.

Atualmente, esse produto é raro, enquanto ainda vicejam os licorosos vinhos produzidos em Balaclava. Diz o folclore, pela quantidade de sangue vertido pelos soldados na Guerra da Crimeia por ali.

Ainda há produtos valorizados, como os vinhos fortificados de Massandra, e esforços como a linha Alma Valley, que chega à mesa de restaurantes moscovitas por quase R$ 200.

Seu pinot blanc tem dulçor excessivo, mas o rosé a partir de pinot noir é surpreendentemente equilibrado e sai por palatáveis R$ 60 a garrafa na Crimeia.

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