A Polícia Militar daria o braço a torcer?

 

A violência foi tão explícita que a reprodução do vídeo em que um policial quebra o braço de um dirigente do PT numa delegacia chegou a ser precedida pelo alerta de “cenas fortes”.

Reportagem de Catia Seabra e Rogério Pagnan, da Folha, revela que “o advogado Geovani Doratiotto, 29, presidente do PT de Atibaia (SP), foi agredido e teve seu braço quebrado em uma ação de policiais dentro da delegacia central da cidade na tarde de domingo (3)”.

O advogado teve seu úmero fraturado e perdeu temporariamente parte dos movimentos da mão esquerda.

Doratiotto usava uma camisa com a inscrição “Lula livre” e disse ter sido levado para a delegacia após ser agredido por um grupo em um bloco de Carnaval.

Ainda segundo o mesmo texto:

“Diante de policiais e funcionários da delegacia, Doratiotto foi imobilizado por três homens, sendo dois PMs fardados. Enquando um o segurava, outro torceu o seu braço, provocando forte estalo”.

Em nota, a Polícia Militar paulista informou que a imobilização de Doratiotto ocorreu após o delegado pedir ajuda dos PMs devido às ações de “desacato, desobediência e resistência”.

Segundo a nota da corporação, “foi necessária a aplicação da técnica de defesa pessoal para imobilizar e conduzir o indivíduo até a referida cela”.

Algumas observações.

Surpreende a primeira conclusão da PM. As cenas filmadas não sugerem que o comportamento do advogado, imobilizado por três homens, oferecesse risco e ameaça a exigirem dos policiais o uso de “técnica de defesa pessoal”. Eles não estavam se defendendo.

Supõe-se que policiais eficientes tenham treinamento para enfrentar eventuais provocações com firmeza, mas sem truculência.

Se a motivação foi política, como observou o ouvidor da polícia, Benedito Mariano, é um fato grave. “Policiais não podem se envolver em questões políticas na atividade de rua”. Ou seja, os direitos humanos valem para quem veste camisa de apoio a Lula e para quem veste camisa de apoio a Jair Bolsonaro, por exemplo.

Choca a indiferença e a omissão das pessoas, entre policiais e servidores, na delegacia, registradas na filmagem feita por Phamella Dal Bello, namorada de Doratiotto.

Diante do atual clima de estímulo à violência por parte de autoridades, teme-se que o episódio reflita o discurso oficial dos atuais dirigentes do país.

Os policiais foram afastados até a conclusão das investigações e a Secretaria de Segurança Pública diz que vai apurar a conduta deles.

Se as investigações do Inquérito Policial Militar confirmarem que houve excesso dos policiais, resta saber se a Polícia Militar dará o braço a torcer, desculpando-se pela nota aparentemente precipitada.

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