A noite dos cristais continua no horizonte

Sexta-feira (9) é o 80º aniversário da Kristallnacht, a noite dos cristais quebrados, a brutal ofensiva nazista contra os judeus. Fala muito mal da humanidade o fato de que, tanto tempo depois, avança uma onda de antissemitismo, na Europa mas também nos Estados Unidos, e, mais amplamente, uma onda de intolerância.

Da Alemanha, em todo o caso, fala bem o fato de que a chanceler Angela Merkel, vai participar da cerimônia de rememoração, discursando na maior sinagoga de Berlim, em companhia de políticos graduados.

Sinal de que a Alemanha conseguiu fazer o mea culpa a respeito do passado.

Triste, no entanto, é verificar que se repetem episódios de violência contra locais e/ou personalidades judaicas. Uma das vítimas está sendo o mega-investidor George Soros, judeu nascido na Hungria e naturalizado americano. Seu escritório chegou a receber um dos pacotes-bomba enviados há duas semanas a diversas personalidades críticas com Donald Trump.

Claro que não há como acusar Trump diretamente por esse ou por outros episódios de antissemitismo. Ele é um adepto fervoroso do Estado de Israel e seu genro é judeu praticamente.

O problema é que o caldo cultural que embalou o trumpismo usa, sim, Soros como suposto cérebro por trás do ”globalismo", o nome que os nacionalistas preferem para se referir à globalização. Seria também, o que é ainda mais inacreditável, um radical de extrema esquerda empenhado em minar a ordem estabelecida.

Qualquer semelhança com o uso de ”comunistas” ou ”vermelhos” para qualquer um que não reze pela Bíblia de Jair Bolsonaro não é mera coincidência. Afinal, Steve Bannon, o ideólogo dos antiglobalistas, incluiu Bolsonaro e sua turma entre os ídolos do Movimento, a internacional de extrema direita em gestação.

Soros seria, sempre segundo essa turma perigosamente alucinada, o financiador da caravana de desesperados migrantes centro-americanos que busca chegar aos Estados Unidos. Uma fake news difundida pela Radio e TV Martí, financiada com dinheiro público para criticar Cuba.

A emissora está sob investigação da agência de monitoramento da mídia, por ter difundido relatório do grupo conservador Judicial Watch, cujo diretor, Chris Farrell, disse que a caravana era financiada ”pelo Departamento de Estado ocupado por Soros". Não apresentou a mais leve prova.

Reação do senador Jeff Flake (republicano, diga-se):  "É antissemitismo com dinheiro público".

Antissemitismo com dinheiro público, difundido pela máquina de propaganda montada pelo nazismo, levou à Kristallnacht. É assustador constatar que 80 anos depois, o ódio pelo outro (seja qual for o outro) continua no ar, inclusive no Brasil.

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